OS AIESTÉTICOS - ESCOLHENDO A PREÇO CAMARADA


Quando compramos um vinho, não é só comprar um vinho! É algo mais, é ritualístico, ato sagrado, solene. A excitação é igual a pedir à “gostosa” do 5.o andar para sair, algo assim. Explico (sem entrar nos méritos da “gostosa” do 5.o andar!): quando deparamos com uma garrafa, numa prateleira do mercado, garrafa que desconhecemos, seria como se a tal do 5.o andar nos desse aquele sorriso! 

Sim, tem a ver com sedução. Você pega a garrafa, lê o rotulo, vai se informando e encaixando as informações no cérebro. Havendo o “match” compatível, a gente se rende, acaba comprando o produto. Sim, entre o mercado e a nossa casa há um caminho longo, e a vida interia passa na cabeça da gente. Isso porque aquela garrafa já passou a ser a tal do 5.o andar.

Aí, há os apressados, querem abrir logo a garrafa. Lamento informar, sou sádico. Espero   2, 3 dias para a “bichinha” se acalmar, em condições ideais, 15 graus! Afinal, o produto chacoalhou prá lá, chacoalhou prá cá e vinho não é muito chegado á isso.

Passados uns 3 dias, olho para a garrafa e decido que É AGORA. Preparo alguma coisa para acompanhar – mera desculpa – e vou me entretendo. Abro a garrafa com os cuidados habituais - e o mercado me fornece diversos saca-rolhas de bom padrão. Eu uso um da Zeiss, manual, onde o esforço é apenas em girar o breguete em cima. Abro a garrafa e a deixo aberta uns 10 minutos. Falei que era sádico!

Vamos dizer que escolhi um Chileno, Cabernet Sauvignon 2007. Uma vez aberto, coloco um pouco na taça. Analizo a cor (aqui a chama de uma vela é o ideal). Vermelho rubro, denso e lindo de viver. Em seguida o teste do “nariz” (olfato). Colho informações sobre as impressões do “caldo”:  uva, morango, amoras, nozes e enfim, o cérebro não para. É o êxtase olfatório. Giro o liquido na taça, movimentos suaves e circulares, combino a cor com a sensação olfatória e observo como as “lágrimas” descem pela parede da taça. Lagrima longa, curta – vinho denso, vinho ralo! E agora o primeiro contato. A “gostosa” do 5.o andar estaria totalmente entregue, a essa altura do campeonato, implorando! Mas como estou falando de vinho, seguimos em frente.

Deixe entrar vinho suficiente para molhar a língua. Espere o cérebro lhe dizer o que achou.
Frutado, aguado, frutado-apimentado, frutado-azedo enfim, deixe a imaginação flutuar e forme a opinião. Na verdade só tem duas opiniões: gostei e não gostei.

Agora encha a taça até 50% dela (isso para aquelas taças enormes de Cabernet, são quase 300 ml!). Repita o ritual e compare as notas. Assim, a primeira impressão fica mais evidente e, ou a vinícola ganhou um freguês, ou um inimigo!

Didaticamente o vinho é “dissecado” em: 1) Cor 2) Bouquet (olfato) 3) Paladar. Tem gente que prolonga o “lenga-lenga” e acha que o paladar pode ser longo ou curto: seria o “after tounge” (final curto ou longo).

Agora analise: você pagou uns R$ 26  por um vinho que você não conhecia, e analisou as etapas descritas. No final ficou feliz porque o vinho agradou. Certamente vai comprar mais daquele doravante (a “gostosa” do 5.o andar pode ir embora, satisfeita!).

Digo e repito, o melhor vinho do mundo é aquele que a gente curte, nos deixa feliz com a sensação de “missão cumprida”. Mas qual é a missão? Claro, a missão é descolar um belo vinho para servir aos amigos quando vêm nos visitar e que não custou os olhos da cara.

Doc Lunarscape, o músico carioca que é médico por alguma inconsistência do destino.


(Leia aqui: CHEERS)

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