O VERÃO DA LATA

(No post FIM DE VERÃO, a autora, Mirtes - a @marcia1907 - citou o "verão da lata". Pois aí o outro carioca (que também não nasceu no Rio de Janeiro) da trupe aqui do blog preparou este texto. Para quem não sabe e para quem não se lembra. E para quem não consegue se esquecer das latas, segue aí o artigo do Doc Lunarscape - Nota da Velvet)


Foi um evento ocorrido no verão de 87/88 no Rio de Janeiro e protagoniza, com certeza, um dos fatos mais inusitados da história da cidade.

O navio Solana Star era uma embarcação pesqueira de porte, construído em Taiwan e batizado de Foo Lang III. Pouco depois foi reformado na Austrália e recebeu o nome de Geraldtown Endeavour. Anos depois, já sobre bandeira Panamenha, é que recebe o nome de Solana Star.

Em Janeiro de 88 o Solana Star, vem de Cingapura carregado de estimadas 3 toneladas da maconha da mais elevada qualidade. Eram aproximadamente 20 mil latas de 1,5 kg de erva, compactadas. A carga preciosa tinha como destino a Argentina. A embarcação iria fazer uma parada de abastecimento nos cais de porto no Rio, mas foi avisada de que tinham sido “descobertos”. Quem dedurou o Solana Star foi a DEA (Drug Enforcement Agency dos EUA). Resolveram assim, passar direto por Rio de Janeiro e abastecer em Santos. Porém, na altura da Ilha da Marambaia (entre Rio e Angra) a tripulação é avisada que a Policia Maritima iria abordar o navio. A solução era então despejar todo o conteúdo dos porões, no mar. Sim, 20 mil latas de maconha da melhor qualidade, ao mar!

A tripulação foi presa, e o navio arrestado. A tripulação conseguiu fugir da carceragem e apenas o cozinheiro ficou preso. O Solana Star ficou no Arsenal da Marinha por 2 anos até que foi arrematado em leilão por um empresário carioca. Inicialmente a ideia era fazer do navio, um iate de luxo, mas a reforma sairia cara demais. Assim o Solana Star virou barco atuneiro, com o nome de Tunamar. Quatro anos depois, afundou perto da Ilha de Cabo Frio, onde o naufrágio repousa até hoje.

Bem, vamos ao que interessa: as correntezas generosas conduziram as latinhas até o litoral, e há relatos de que chegaram às praias desde Rio Grande do Sul até Rio de Janeiro. Pessoalmente, acho pouco provável. Até Santos pode ser, mas as correntes são contrárias, sobem em direção ao Rio e Niteroi. Não importa, interessa sim, o fato que a vasta maioria das latas vieram parar nas praias da Barra, São Conrado, Leblon, Ipanema e nas praias oceânicas de Niteroi até Cabo Frio. Lembrem, foram 20 mil latas!

Quando as primerias latas apareceram em São Conrado, fazia parte de uma galera surfista. Uma bela tarde avistamos pontos brilhosos no mar e perguntávamos o que poderia ser, já que a apreensão do Solana Star não tinha sido comunicada à imprensa. Tivemos que remar até os pontos par ver o que era. Recolhi 3 latas e voltei para a praia. Inicialmente ninguém queria abrir com medo de carga tóxica (risos). Mas, no fim, um amigo mais atirado se aventurou a abrir a lata dele. Caimos duros para trás! Seria algo como ganhar na mega-sena, sem jogar! Ríamos até dizer chega, todas as latas foram abertas e o conteúdo era o mesmo. Foi um tal de neguinho se jogar no mar desesperadamente atrás de mais latas... No mesmo dia, grupos de surfistas haviam feito a mesma descoberta nas praias de Ipanema e Leblon. No dia seguinte a policia vasculhava as praias e a noticia já tinha ganhado a “mídia”.

Iniciou-se uma febre de “caça às latas” e o assunto era só aquele. O “bagulho” da Lata! Impressionante foi aparecerem camisetas com desenhos da lata, virou gíria, música e se imortalizou com a carreira solo da Fernanda Abreu.

Na verdade, esse episódio protagoniza o ultimo evento da era hippie do Rio de Janeiro, onde a maconha começava a ser substituída pela cocaína, e os hippies eram reduzidos a agrupamentos de surfistas. O boom passou a ser yuppie, e o padrão “mauricinho” ganhava força. Mas com tanta gente abastecida com o “bagulho” da lata, havia traficante vendendo “gato por lebre”, de repente toda “Boca” tinha o tal da lata.

A erva em si era verde, tipo verde cryptonita e realmente o “superhomem” ficava imobilizado sob a influência do potente THC daquela safra.

Que o Solana Star tem seu lugar de destaque nos anais da história do Rio de Janeiro, isso tem. Marcou uma geração para sempre.

Comentários

  1. De fato, era braço arriado legal. Cada coisa que acontece só aqui no Rio! Inda bem que o Cristo fica meio de lado não olha direto pras praias da Z. Sul.

    J. Atakardiac

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  2. marcia190727/02/11, 19:54

    o verão da lata foi uma festa. a gente só ouvia falar disto e assim q a notícia espalhou levas de "gringos" apareceram nas praias.
    os "fiscais" da natureza faziam plantão 24hs
    e a polícia perdida tentando recolher as latas...
    realmente atakardiac tem razão tem coisas q só no rio mesmo..(rs)
    valeu lunar por ter atendido ao meu pedido..
    beijim

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  3. Só posso dizer que parece que tudo acontece no país do carnaval...PQP!!!
    Amo vc Lunar!

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  4. sandra sallee01/03/11, 18:56

    lembro do verao da lata . meu namorado e 1 amigo fizeram 1 bolo com o conteudo . Cheirava no Humaita inteiro ... Kind embarassing ..
    mas qdo se e jovem se pode tudo , eu penso ..embarassing anyways ...

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