CAI A NOITE



Tornei-me amigo do sono que me beijava o cérebro
Deixando rolar a lágrima do tempo; o olho de quem dormia,
Abrindo-se na luz, voltou-se para mim qual uma lua.
Assim, erguendo-me nos calcanhares, voei ao longo de meu ser
E despenquei sonhando a contemplar o céu lá no alto.

Fugi da Terra e, despido, galguei a atmosfera,
Alcançando um segundo solo distante das estrelas;
E aí nos lamentamos, eu e um outro ser espectral,
Com olhos maternais, acima da copa das árvores;
Fugi daquele solo tão leve quanto uma pluma.

"O mundo de meus pais estremece em sua nave e canta."
"A terra que percorremos era também a terra de meus pais."
"Mas esta em que pisamos abriga as hordas angélicas,
E doces são as faces ancestrais que lhes povoam as asas."
"São apenas homens que sonham. Se sopras, eles se diluem."

E então toda a matéria do ar que ali vivia
Ergueu a sua voz e, galgando as palavras,
Soletrei minha visão com as mãos e os cabelos;
Quão leve é o sono essa gleba estelar,
Quão profunda é a virgília nas nuvens planetárias.

Ali principia a escada das horas rumo ao sol.
Cada degrau é um amor ou a perda do último,
As polegadas reproduzidas pelo sangue do homem.
Um velho louco subia contudo em seu fantasma,
O fantasma de meus pais subia em meio à chuva.

(Dylan Thomas)

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