O SANTO JORNALISMO GRAAL

Ah, lá, ou melhor, ah, cá esta que vos fala reeditando posts, novamente. Não preciso mencionar a Teoria do Ciclo em que tudo nestepaiz se repete, repete, sempre para o mal, né não? Pois é. Ao se comemorar o Dia do Jornalista, releiam, ou leia quem não leu antes, o post abaixo, cujo título original, em junho/2011, era O Santo Palocci Graal. Uma reflexão no auge do interstício de Palocci com a corrupção que grassa nos cantos de CorruPTópolis. Como mudam os atores, mas a ópera bufa segue a mesma, serve para WaterFallGate e que tais, incluindo aí, a imprensa genuflexa que tem lado: o lado de quem replica releases da Secom do Planalto. Ou, ainda um pouquinho pior, do Zé Dirceu. Deixei os parágrafos sobre o caso, sem edição. Porque eles provam que, naquela ocasião, eu tinha razão. Ninguém correu atrás...

[Ah, e não deixo de "homenagear" àqueles incapazes de produzir algo de própria lavra, que se pintam e se vendem, sob a máscara burlesca da carinha bonitinha (mas ordinária) de quem se julga prestar relevantes serviços "contra" a corrupção nas "redes sociais" por horas replicando o trabalho (muito bom de uns, nem tanto de outros) de jornalistas de redação, de fato, mas que deixam um rastro em cache de idolatria a notórios escroques... O problema é esses conseguirem entender... o post. (Aspas e reticências são propositais).

À todos os demais, e sim, são muitos, que honram seus diplomas com o exercício correto de sua profissão, alvíssaras!! Esses, certamente, não só inspiraram-se no filme abaixo, como também leram, e respeitam, Rui Barbosa.]


Todo mundo que já teve ou tem contato com a área da Comunicação Social sabe que o filme Todos os Homens do Presidente (All the president's men, Alan Pakula, 1976) é uma referência em estudos das teorias modernas do jornalismo. Para quem não assistiu, o filme trata do escândalo de Watergate, ocorrido em Washington, em 1972, que veio a ganhar as primeiras páginas dos principais jornais do mundo. Tudo, porém, começou em um patamar muito pequeno na esfera política americana: uma invasão do edifício Watergate por cinco aparentes ladrões não mereceria mais do que páginas policiais, mas ganhou, com o tempo, uma proporção não imaginada. O que ocorreu de fato foi um caso amplo de espionagem política que levou o presidente republicano Richard Nixon, eleito em novembro de 1972 para seu segundo mandato, a ser forçado a sair do cargo.

O filme mostra cenas históricas, permeadas às demais dirigidas por Pakula, reforçando sua intenção de bem reproduzir o que foi o caso Watergate, a partir da investigação do caso pelo jornal The Washington Post: a redação do jornal, os repórteres envolvidos, o editor-chefe, reuniões de pauta, contatos com a fonte (o famoso Deep Throat, o Garganta Profunda), enfim, é uma obra-prima do cinema, e não só sob o ponto de vista que o tornara um paradigma do jornalismo.

Suponho que as faculdades "de hoje em dia" ainda recomendem o filme aos alunos, promovendo seções de exibição com debates, simulações, etc. Isso acontecia antigamente, pelo menos, antes da moda das faculdades caça-níqueis via Prouni. Todo estudante ficava "fissurado" naquilo, e incorporava, enquanto estivesse longe da realidade das redações, aquele ideal quase romântico, da profissão. O que ajudava a imbuir no caráter o senso moral da coisa. Mas hoje em dia, o jornalismo praticado no filme é cada vez mais raro. Falo do jornalismo político. 

Não sei se é efeito de posts rápidos e urgentes exigidos pela internet, se é excesso de competição, no sentido numérico maior e de qualidade menor, de jovens profissionais  recém-formados que topam qualquer parada numa redação para conquistar o emprego; se é contenção de despesas por parte dos grandes conglomerados da comunicação, demitindo os melhores editores do ramo, aqueles que atiçam os bons profissionais em sua equipe; se é preguiça de correr atrás da notícia, contentando-se em assinar matérias tendo por base apenas os releases oficiais, muito bem distribuídos, como fonte principal; não sei se é, enfim, o bom e velho vil metal,  via verbas publicitárias do governo, do qual jornais, revistas e TV's cada vez dependem mais (nossa querida imprensa genuflexa voluntária). O fato é que raros são os repórteres que praticam esse jornalismo investigativo. Quando topamos com eles, ficamos mortos de agradecidos pela valentia. 

Desde o lançamento do livro que deu origem ao filme Todos os Homens do Presidente, o Santo Graal do jornalismo era "derrubar um presidente". O sonho de todo repórter, aquilo que eles perseguiam diária e NOTURNAMENTE.  Claro, não é todo dia que se tem Watergate, nem Garganta Profunda, nem Nixon para ser derrubado. Mas nesse processo de busca, acontece de um primeiro-ministro cair, um ministro outro qualquer, um senador, um governador, etc. 

O caso Antonio Palocci, até mesmo pela fragilidade das explicações dadas ao Jornal Nacional, acrescido da reportagem da revista Veja que mostra o embróglio que é, também, o apartamento onde o ministro mora, segundo ele, alugado,  tem todos os ingredientes para ser o Santo Graal dos nossos tempos. Mas me parece que ninguém vai atrás. Nesse fim de semana, a boataria da queda de Palocci tomou conta de Brasília. Todo mundo freneticamente procurando notícias.... em seus laptops, smartphones e tablets. Esperando a notícia vir ao seu encontro. 

Queria entender porque não se interessam por um Santo Graal da categoria de Palocci. É o super-todo-todo-primeiro-ministro de Sua Majestadade, A Presidente do Degoverno das Trevas III. Se trabalhasse, essa que vos fala, em uma redação, eu seria bem capaz de sequestrar meu editor, mantê-lo preso (alimentado e com água, logicamente) caso ele não me autorizasse sair a campo para uma reportagem dessas: qual jornalista da cobertura política em Brasília  não tem pelo menos uma fonte, no grupo conhecido como PTFisco, o bom e velho aparelhamento partidário que existe em todas as empresas e órgãos públicos, que prestam toda sorte de serviços obscuros, abastecendo de informações úteis ao PT? Pois é. Todo jornalista que cobre política e economia, no mínimo, sabe que existe o grupo a operar na Receita Federal (se o seu jornalista de política não sabe, tem que ver isso aí, senhor editor). 

Mas será o Benedito das Pernas Tortas, que nenhum desses exímios repórteres da capital federal pensou em marcar um encontro com sua fonte, em alguma garagem escura, e à luz do isqueiro, perguntar (ou sugerir) ao membro do PTFisco, um cruzamento entre o que Palocci afirmou na tal entrevista (ele alega ter os recibos de aluguel do apartamento que mora) e o que declara o tal senhorio (se encontrarem, pois isso é outro embróglio de laranjas e que tais)? 

Então, essa turma precisa assistir a Todos os Homens do Presidente. E sempre ter um trocado* nos bolsos, ao invés de um press-release da Secretaria de Imprensa da Casa Civil. E daí, é só rodar a belezinha**!

*Trocadilho que o editor-chefe do Post usava, quando um repórter saía à rua, para investigação. Significa manter contato: ter um trocado para usar o orelhão. Logicamente, hoje, na era dos celulares...


** Outra frase dita na redação do Post: significa matéria pronta para rodar, na impressão do jornal.


Comentários

  1. Parabéns Regina
    Eu,que não sou da área, entendo muito menos esta falta de investigação de TODOS os episódios de corrupção recentes e a falta de continuidade dos episódios de corrupção "mais antigos",de uns meses atrás,como erenice,etc.
    Para mim isto também é acobertamento entre sócios....

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  2. Ótimo resgate do maior episódio jornalistico da história moderna. Quiça nossos repórteres pudessem retomar suas funções numa nova concepção profissional inspirada nesse ato.

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  3. Comentar este artigo não está fácil para quem como a autora conhece o métier. Uma das dificuldades foi abordada: a contenção de despesa. As redações estão vazias se comparando às necessidades. O pessoal é jovem e inexperiente demais além de, naturalmente, ter um diploma impresso com tinta de lavagem de máquina. Porém, nada impossível a contratar um freela dos tempos anteriores ao ProUni. As redações americanas estão cheias de cabelos brancos ao contrário do Brasil e pelo motivo já citado que é a contenção de despesas. Como se dizia antigamente, um foca custa bem baratinho. E o principal é que como você diz, todas as empresas de comunicação estão ajoelhadas no milho que é distribuído pelas verbas publicitárias. Mas não fica só nisso. Todas as empresas serão fiscalizadas rigorosamente Pelos fiscais do MT, da RF etc etc. Se se meterem à besta, fiscais em cima deles .

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  4. o problema é que o jornalismo brasileiro, na grande maioria dos casos, são os departamentos jurídicos e de publicidade que falam mais alto do que o "aquário" da chefia.
    e isto se reflete até nas matérias "arroz feijão" da editoria de cidade e explode na de política.

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  5. Cara
    Conheci seu blog recentemente e tenho voltado a ele com frequência (trema, pronúncia). Gosto muito da forma como v se expressa, é uma alegria ler texto fluido assim.
    Qualquer dia hei de fazer algum comentário decente, por ora era só para aparecer e elogiar (e massagear seu ego, embora isto pareça despiciendo, pelo seu estilo). E lembrar que throat está com uma letra invertida.
    Abraço
    PeePee

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    1. Obrigada. E obrigada, estava invertida mesmo. Corrigi.

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