DIÁLOGO SOBRE A SERVIDÃO

"Estepaiz "evolui" celeremente para aliviar todos os desejos carnais 
dos estado-dependentes." BSchopenhauer



Há quem pense ser melhor servir. Por incapacidade - os seres não são iguais, há os mais fortes, que lideram naturalmente, e os mais fracos, que são liderados - ou por comodismo. Ou ainda, por desconhecimento de que seja possível ter opinião e atitudes próprias, como indivíduo. Fato é que nada serve mais ao totalitarismo do que multidões adestradas. 

Está em curso nestepaiz, e não data de hoje, a criação de uma manada que, de tão servil, se convida ao habitat de uma humanidade caracterizada pela servidão. Serve-se aos interesses dos que a comanda - sob o aspecto político - com sofreguidão. Isso se consegue com certa facilidade. Tudo é feito para que as leis e seus benefícios não atendam à maioria, mas sim, para servir a vontade da minoria que detém esse poder de controle, que nestepaiz é exercido, fundamentalmente, via cargos públicos, via o voto - a suposta ilusão de democracia - para esse domínio. 

A tutela dos indivíduos se dá por via de mão dupla. Se por um lado, há o estado que os quer conservar sem iniciativa, cativos pela ignorância, até formarem a opinião de que assim são pessoas dóceis e humildes - cordiais -, por outro lado há o próprio desejo dos mesmos indivíduos em serem agasalhados por esse estado. Isso, num regime que se pretende ser chamado de democrático, é perigoso, pois forma uma sujeição através de uma aparência de liberdade: as pessoas escolheriam essa alternativa. Cria-se a ideia de que o governo deve fazer tudo. Pensar em tudo. Decidir tudo. Fornecer tudo. Iniciar todas as ações que vá lhes mudar a vida, ou lhes conferir alguma vantagem. 

Essa larga avenida de mão dupla pavimentada por um estado totalitário, é povoada por um povo sedento por não ter iniciativa, prontíssimo para ser tutelado, até tornar-se, porque não, indigno da própria liberdade. 

E por falar nela, a escravidão tornar-se-á elemento natural, até que se dê a tal liberdade. O Domínio Feminino, no início da tarde desta quarta, 31, publicou em seu Twitter: "E neguinho quer que o DomF acredite nos 'indignados'? Acreditaremos só nos raivosos, irados, rebelados." Impossível não concordar. Nada liberta mais que a ira santa, sem a qual, não se constróem "revoluções" verdadeiras contra tiranias. A história da humanidade está aí para provar. Nenhum grande movimento de libertação no mundo ocorreu em nome do "amor". Em nome do amor ao seu povo, ao contrário, é que são formadas todas as mais sangrentas tiranias. Pois a rebeldia da saturação da servidão, movida pela ira santa, deve começar no questionamento.

As pessoas devem ter interrogações sobre tudo, rumo à reflexão. E descobrir, naquilo que as subjuga, o terror. Sem descobrir que há terror nisso, para quê rebelar-se e desejar a liberdade? A indignação parece um bom sentimento, inicial. Mas é insuficiente. Na prática, a indignação é engolida, facilmente, com um bom gole de cerveja. Depois de cinco ou seis, é esquecida, em nome de um momento de lazer muito melhor. Ou de outra indignação que substitua a anterior - e estamos falando destepaiz, que é próspero em produzir, fartamente, motivos para tanto.

Pela manhã, debatendo - como não poderia deixar de ser, sobre tal tema - com BSchopenhauer, apresentamo-nos variantes sob o mesmo ponto de vista: o estado tutela o indivíduo, que se deixa tutelar por ele. Ben defende que o povo nutre uma paixão devotada pelo estado, avassaladora, portanto, cega: "Não acredito que a sociedade brasileira, por vontade própria, imporá limites à voracidade do Estado, simplesmente porque é loucamente apaixonado por ele", afirmou o pensador. Avalio que seja pior que paixão - que, por ser irracional, não há fundamentação, e pode ser quebrada por qualquer mísera decepção. 

Entendo que essa sociedade estado-dependente, não chega a ter noção dessa paixão pelo estado. É acomodada dentro dele, e não se dá conta do que isso significa. Assim, entendo que a também "teoria" de Ben que remete à Síndrome de Estocolmo como explicação para a falta de iniciativa da sociedade em libertar-se das garras do estado, seja a mais adequada. O povo já deseja a tutela, e chega a se ressentir do estado, quando acaso, em algo, ela não se realiza. 

É, a meu ver, a maior eficiência do estado: destruir a vontade própria de seu povo, tal e qual o nazismo conquistou junto aos judeus, ao ponto de subjugá-los a irem, obedientes, para a fila da própria execução, sem nenhuma reação. A "povo" entenda-se a sociedade dita por B., em todas as esferas que a compõem: indivíduos e instituições, dentre elas, as que não são de estado, como a imprensa, inclusive. Para Ben, "a Síndrome de Estocolmo se torna uma analogia fraca diante da adoração que a sociedade brasileira devota ao Estado. Creio que a figura fica melhor com a inclusão do cafetão ou proxeneta (desgoverno da Idade das Trevas) entre a sociedade, usada, abusada, devorada, estuprada... e o Estado, usuário, abusador, devorador, estuprador daquela."

Segue BSchopenhauer argumentando que "paixão representa bem a idéia, porque ela turva a razão, enquanto a dependência e a servidão não a cegam." Aqui, concordamos: "turva a razão", mas a discordância vem porque creio que alguns se subjugam racionalmente, por comodismo, à dependência do estado. Não por paixão. Por preguiça. Por serem existências carregadas apenas de inutilidade, mesmo. E defendo que a servidão e a dependência, então, se auto-alimentam, e se bastam. E isso é um vínculo quase impossível de se romper. 

Fato é que não chegamos a um acordo. Nem chegaremos - ainda que não precisássemos interromper, naquele momento, o "colóquio" - por temos forte tendência a cada um defender sua forte opinião de modo fortíssimamente contundente. Mas fato é, também, que convergimos para a mesma conclusão, independente da via. Nas palavras do pensador, "a sociedade brasileira, cria do estado, adora sem limites o criador." 

Sigo a sina de nunca encerrar uma minha reflexão sem propor outra: temos ciência de que, somos tal qual o velho ditado, "de boas intenções o inferno está cheio"? Que os "bons" sentimentos, aqueles das pessoas de boa fé, positivistas, alto-astral, esperançosas e etc, nos empurram para a servidão? Temos ciência de que a liberdade da dependência que o estado nos submete será rompida se não abrandarmos, com hipocrisia, e usarmos aqueles  sentimentos de nomes politicamente incorretos, como terror, medo e ódio, como  os motores da ira santa? 

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Comentários

  1. A leitura é dolorosa porque está acompanhada da Razão translúcida. Preferiríamos sequer ter sido citadas - em que pese o alívio que é saber que alguém está no mesmo ângulo de visão que nós do DominioFeminino. O lado esperançoso da situação é desejar que por aqui passem alguns leitores que enxerguem um palmo à frente da testa mesmo aquelas pessoas que, a despeito de trabalharem para o Estado, sabem que dele não são escravas por falta de aptidão provocada pelo gosto da Liberdade via uso da Razão.

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