CAI A NOITE



Em que estado, meu bem, por ti me vejo, 
Em que estado infeliz, penoso e duro! 
Delido o coração de um fogo impuro, 
Meus pesados grilhões adoro e beijo. 

Quando te logro mais, mais te desejo; 
Quando te encontro mais, mais te procuro; 
Quando mo juras mais, menos seguro 
Julgo esse doce amor, que adorna o pejo. 

Assim passo, assim vivo, assim meus fados 
Me desarreigam d'alma a paz e o riso, 
Sendo só meu sustento os meus cuidados; 

E, de todo apagada a luz do siso, 
Esquecem-me (ai de mim!) por teus agrados 
Morte, Juízo, Inferno e Paraíso. 



Manuel Bocage
(Ilustração: Os Amantes, Picasso)

Comentários

  1. Olá,

    viciante o amor, né?

    Um ótimo final de semana para você!

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  2. Bocage...Verdadeiramente enebriante.

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