CAI A NOITE

Aqui, Neera, longe 
De homens e de cidades, 
Por ninguém nos tolher 
O passo, nem vedarem 
A nossa vista as casas, 
Podemos crer-nos livres. 

Bem sei, é flava, que inda 
Nos tolhe a vida o corpo, 
E não temos a mão 
Onde temos a alma; 
Bem sei que mesmo aqui 
Se nos gasta esta carne 
Que os deuses concederam 
Ao estado antes de Averno. 

Mas aqui não nos prendem 
Mais coisas do que a vida, 
Mãos alheias não tomam 
Do nosso braço, ou passos 
Humanos se atravessam 
Pelo nosso caminho. 

Não nos sentimos presos 
Senão com pensarmos nisso, 
Por isso não pensemos 
E deixemo-nos crer 
Na inteira liberdade 
Que é a ilusão que agora 
Nos torna iguais dos deuses. 

Ricardo Reis

Comentários

  1. Sandra Sallee19/12/11, 23:26

    Que continuemos livres !
    E que possamos pagar o preco pela nossa Liberdade de agir e expressar nossos pensamentos .

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