OPOSIÇÃO RESPONSÁVEL OU CUMPLICIDADE CRIMINOSA?


O que será pior para o país, a ânsia, a sanha devoradora dos petralhas ou a passividade quase criminosa dos que deveriam ser os porta vozes dos 44 milhões de votos limpos dados não a José serra, mas ao que ele representava? A oposição propositiva, construtiva e, como diria meu caro amigo Dr. Evil, de punhos de renda, é algo desejável em um regime democrático? Onde termina a oposição responsável e começa a cumplicidade criminosa?

Afinal, é como nas tradições dos filmes de vampiro. O monstro domina a pequena vila e há um clima de terror em volta, mas os habitantes aceitam como normal e até desejável que volta e meia alguém pague com a vida para satisfazer o monstro, desde que tudo continue como sempre. Enfrentar a fera é algo impensável mas, e assim reza a tradição, mesmo o monstro tinha limitações. Dentes de alho impediam a sua aproximação e parâmetros litúrgicos como hóstia e água benta o podiam destruir, além da clássica estaca de madeira no coração. Outra limitação é que a criatura não tinha naturalmente o livre acesso a todo lugar. Se você fosse um morador ele só poderia entrar em SUA casa com a SUA permissão, mas depois disso é ele que passava a dominar. Sempre vi isso como mensagens simbólicas, de que as pessoas estão sempre dispostas a deixar que o mal adentrasse, desde que fosse aparentemente aceitável, superior e até um pouco ameaçador. 

Precisava encontrar, primeiro, justificativas maiores que a simples opinião para o povo e a oposição serem tão passivos frente a agressividade política e a desfaçatez dos donos do poder. Lendo um texto de Demétrio Magnoli tive um insight. Demétrio termina o maravilho e esclarecedor texto com a frase: 

“O pensamento duplo não é um acidente no percurso do PT, mas, desde que o partido alcançou os palácios, sua alma política genuína. A tensão entre princípios opostos é real, mas não explosiva. Num país em que a oposição renunciou ao dever de discutir ideias, o partido governista tem assegurado o privilégio de rotinizar a mentira.”

Será que a recusa da oposição de discutir ideias é um fator determinante até para as injustificáveis altas nas pesquisas de opinião? Da passividade bovina e ovina? O povo será influenciável pela atitude e está apenas reproduzindo? Perguntando assim, cheguei a dois experimentos psicológicos que, creio, responde as perguntas.

O primeiro era de Solomon Asch, um polonês de Varsóvia nascido em 14 de setembro de 1907, e emigrou para os EUA com sua família em 1920. Doutorado na Universidade de Colúmbia começou a elaborar suas pesquisas sobre a pressão social exercidas pelos grupos. A pergunta que ele pretendia responder era: como e até que ponto as forças sociais moldam as opiniões e atitudes das pessoas? A Comunicação experimentava um surto de crescimento tecnológico e de ampliação de seu publico e já havia então a a preocupação do poder de influência que a mídia poderia exercer na população. O mais famoso estudo de Asch - o efeito da pressão social na conformidade, deu pistas importantes para entender o fenômeno e seu experimento foi o seguinte:

Oito voluntários (na verdade apenas uma pessoa era voluntária, os outros eram atores contratados) tinham de observar uma linha em uma carta e depois em outra carta com três linhas, identificar a que era igual a primeira. Nas duas primeiras vezes tudo corria normalmente e todos os oito acertavam. A partir daí o primeiro dava uma resposta errada, o segundo também e assim por diante. O voluntário verdadeiro era deixado por último, e ao responder diferente, era olhado com desconfiança pelos outros. É então que o experimento ficava interessante: as pessoas passavam a seguir a opinião do grupo e depois de um certo tempo, chegavam até a duvidar do que seus olhos viam e acreditar no que os outros enxergavam. Considerando que a estimativa de respostas erradas nesse tipo de teste é de menos de 1 em 35 (menos de 3%), os resultados foram assombrosos: 75% dos participantes escolheram a alternativa errada ao menos uma vez; 37% dos voluntários erraram a maioria das respostas; 5% deles acompanharam a opção incorreta todas as vezes.

Até aí era um experimento inocente. Porém um genial discípulo de Salomon deu um passo adiante no estudo e assombrou o mundo. Stanley Milgram revelou o assustador comportamento que transforma pessoas comuns em malvados algozes, capazes de atrocidades inimagináveis. Pessoas aparentemente comuns tinham um potencial latente para a maldade, para cruzar limites, porém Milgram acreditava que a resposta estava mais no estimulo do ambiente do que realmente em algo de intrinsecamente mau nas pessoas. Era corrente o pensamento, na época, que a obediência cega à SS nazista durante o advento de Hitler era devido à lavagem cerebral, e Milgram não considerava isso correto. Sob sua ótica, qualquer situação potencialmente persuasiva poderia levar pessoas comuns a abandonarem seus princípios morais e cometerem as piores barbaridades.

De novo era um cenário montado para parecer real. Duas pessoas fariam o teste e seriam observadas por um pesquisador. Antes os voluntários verdadeiros (o pesquisador e o outro voluntário eram atores) assinaram um documento que entre outras coisas diziam que eles poderiam parar a hora que desejassem. Um sorteio de mentira era feito e o voluntário conduzido em frente a uma maquina com diversos botões com números embaixo que seguiam uma progressão. Os números correspondiam a voltagem que seria o choque dado a cada vez que o outro voluntário (o ator) errasse a pergunta feita. O pesquisador garantia que os choques não fariam mal algum. Eles estavam em salas separadas e se comunicavam através de um microfone e para todos os efeitos o voluntário verdadeiro acreditava que o outro estava com fios elétrico ligados ao corpo. De novo, as primeiras perguntas eram respondidas certas, e então os erros começavam e os choques eram aplicados conforme o previsto. Na outra sala o ator começava a gemer e reclamar dos choques. O pesquisador voltava a afirmar que os choques não fazem mal e que o experimento deveria continuar. 

O voluntário real começava a sentir-se incomodado, as mãos começavam a suar enquanto os erros, os choques e os gritos começavam a aumentar. 105, 110, 120, 150 volts. O “eletrocutado” participante dizia que queria parar, mas o pesquisador incentivava firme mas gentilmente; o experimento deve continuar. Com os choques imaginários em 210, 220 volts a parede divisória era chutada e os gritos eram angustiantes. A pessoa afirma então que não quer continuar o experimento mas o pesquisar, com toda serenidade afirma: "é necessário que você continue com o experimento”. Aqui já podemos perceber o poder que uma autoridade pode exercer e fazer com que façamos as coisas mesmo contra tudo o que acreditamos. Ao dar o choque de 405 volts o participante da outra sala deixa de responder e o voluntário pergunta se alguma coisa pode ter acontecido. Agora vem o surpreendente: o pesquisador pede que faça a última pergunta e diz que o silencio pode ser interpretado como uma respota errada e que o choque de 450 volts deve ser dado. Mecanicamente, o voluntário dá o ultimo choque e talvez imagine que apensa por sorte em um sorteio ele não está lá do outro lado.

Milgran junto com outros pesquisadores imaginaram uma taxa de 1,2% para as pessoas que iriam até o fim do experimento, porém nada menos que 26 dos 40 participantes do experimento foram até o fim. Nada menos que 65%! E nenhum voluntário desistiu antes dos 300 volts. E o detalhe é que eram pessoas tão normais como eu ou você. Não havia nenhuma causa aparente para que os voluntários que davam os choques continuassem o experimento mas tão só e apenas a autoridade do pesquisador de jaleco que ditava constantemente que deveria continuar conforme o previsto. Exatamente como os funcionários alemães durante o regime nazista. Uma variação do experimento foi tentada, mas desta vez os choques eram dados por duas pessoas, e de novo uma delas era apenas um ator que em determinada altura dizia que não iria continuar. Isso fez com que a maioria dos voluntários verdadeiros também desistissem, ou seja, que uma atitude positiva e firme poderia influenciar o outro.

É isso que penso quando vejo a nossa oposição tão feliz e contente com a forma de governo petralha. Os punhos de renda fazem com que outras pessoas que poderiam tomar atitudes simplesmente continuem atordoadas frente as autoridades do governo representadas pelos petralhas e seu Furher barbudo. Penso que é esta a causa da letargia do nosso povo e creio que eu e muitos aqui das redes sociais somos os que se recusaram a seguir o experimento até o fim.

Denilson Cicote é o @deci_cote, que fala de "humor e política na medida certa e às vezes na medida errada, já que o homem é a medida de todas as coisas."

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Comentários

  1. opcao_zili24/02/12, 13:46

    A cada dia que passa, tenho mais convicção de que a maioria do nosso povo, ignorante funcional,gosta desta situação porque não tem nenhuma visão de futuro.Tudo tem que ser imediato.Agem como os adolescentes.
    Discutir idéias com quem? O PT não tem idéias e o povo nem sabe o que é isso.
    Mentir como o PT? Seria uma boa?Quem aguentaria até o fim, a experiência?
    Eu, particularmente, não resisto.Sucumbo no primeiro choque. rsss
    Estamos mal, meu amigo.
    Educação de qualidade? quem quer? O único objetivo é um papel escrito que se terminou um curso e não um diploma, porque se fosse seria de anta.

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  2. Querida Edna.

    Disse verdades que chegam a doer nos ouvidos, mas parece que poucos como nós se incomodam com a situação.

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  3. Mercia Maria Almeida Neves24/02/12, 14:37

    Realmente, são choques constantes aos quais temos atravessado.Por quais somos provados.A lista é vasta.Causa espanto.Pode ser até que a voltagem seja ainda maior que as dos experimentos.
    Despojada de nenhuma vaidade, sinto-me tranquila ao reafirmar minhas convicções frente ao quadro político.Nem mesmo pretendo ser melhor, mas sábia que ninguém;É humilhante.No entanto, é muito, mas muito mais humilhante pessoas de "bem" conviver com tantas safadezas.A ter convirvemos no limite de nossas possibilidades. Nossas leituras.O terror se instalou.Aos que querem ver.Sem dúvidas...
    Ao contrário do texto, não concordo com a simples explicação de "punhos de renda".Oras, a Luz é para todos...O Serra é possuidor de um patrimônio de quarenta e quatro milhões.Não são números não desprezíves.Oras, o governo da Presidenta ainda nem mostrou a quê veio.Oras, os quarenta e quatro milhões somados com tanta insatisfação tem um currículo enorme para exposição perante a população nas campanhas eleitorais.O que há se se fazer no momento com uma máquina pública trabalhando a seu "favor",corrompendo,assassinando,
    omitindo fatos,dados, como os petistas fazem? Esperar a boa hora.Nas campanhas.Nos votos. Nas urnas.Levanto minha voz todos os dias.
    "...lutar com as palavras é a luta mais vã, no entanto lutamos mal rompe a manhã.São muitas.Eu pouco".

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  4. o pt adotou a mentira como fator ideológico e a corrupção como meio de vida.

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  5. Querida mercia.

    Sabe que você é um exemplo de pessoa integra, que luta e não se poupa de nenhum embate. Temos de ser assim, cair 10 vezes e levantar onze. Este ano vai ser definitivo e creio que vamos dar uma surra e incendiar de novo a eleição como já fizemos antes pelas redes sociais. Se dermos o exemplo, se tomarmos a frente, creio que realmente não teremos limites. Vamos continuar levantando a voz.

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  6. O trecho do poema DESPERTAR É PRECISO (ou Caminhando com Maiakóvski), de Eduardo Alves da Costa que, erroneamente foi atribuído a Vladimir Maiakóvski, diz tudo:(...) Na primeira noite eles se aproximam
    e roubam uma flor do nosso jardim.
    E não dizemos nada.
    Na segunda noite, já não se escondem:
    pisam as flores,
    matam nosso cão,
    e não dizemos nada.
    Até que um dia,
    o mais frágil deles
    entra sozinho em nossa casa,
    rouba-nos a luz, e,
    conhecendo nosso medo,
    arranca-nos a voz da garganta.
    E já não podemos dizer mais nada.

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  7. Cara Nair.

    Esse poema sintetiza muito bem a situação presente.Mas não creio ser uma situação definitiva. Nada ainda está decidido e temos tempo de correr atrás e temos de ter alguma esperança que mesmo a oposição propositiva vai perceber que caminham para o suicidio.

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  8. CARO DENIS

    ACEDITO QUE AINDA NÃO TEMOS NOÇÃO DE QUANTOS BRASILEIROS JÁ DESISTIRAM DE ACREDITAR DO CANTO DA SEREIA PREGADO PELO PT, TÃO CHEIO DE MENTIRAS, PROMESSAS E QUANTOS OUTROS ESTÃO A CAMINHO.
    O CHOQUE QUE NÃO FAZ DESISTIR PARA MUTOS É O PODER DE COMPRA ONDE O VIZINHO PODE POR QUE TB NÃO POSSO?
    POUCAS VOZES DE OPOSIÇÃO AINDA SE PRENDEM NA TAL POPULARIDADE DO MITO CRIADO EM LABORATÓRIO DE MARKETING E TODA A BASE DE APOIO QUE, ENQUANTO ESTIVEREM LOCUPLETADOS COM AS VANTAGENS FINANCEIRAS CONTINUARÃO ANTI-PATRIOTAS.

    marisa Cruz

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  9. Mariza.

    Eu tenho certeza que muito não acreditam mais, mas estas experiências demonstram que muitos acabam seguindo a boiada ou o senso comum. Esta deve ser uma das razões pela qual Nelson Rodrigues dizia que toda unanimidade é burra. Nós das redes sociais fazemos nossa parte, tanto é que aqui é muito dificil petralha ganhar, e ja demos boas surras neles, mas os lideres da oposição, que tem mais destaquem em outras midias não seguem o mesmo padrão de combatividade. Mas vamos mudar isso.

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  10. Com muita honra faço parte do grupo que resiste e que quero ver aumentar a cada dia, precisamos repercutir ideias, sacudir pessoas, garanto que funciona, mas com bons argumentos e perseverança para não colocar tudo a perder.
    Esses ensinamentos descritos no texto deveriam ser obrigatório nos bancos escolares. O que vemos é o contrário, a doutrina dos auto-proclamados "iluminados" sendo imposta como verdade absoluta e sem contestação.
    Não podemos dar sossego às lideranças que exercem grande influência nas massas sem identidade, são eles os instrumentos do mal quando atuam para favorecer pessoas corruptas e sem caráter.

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  11. A imagem vampiresca de que a oposicinha se curva à sua tradicional camisa de seda e punhos de renda, foi
    absolutamente perfeita. Aos blogueiros resta a história de termos registro todos estes momentos de tanta ditadura "democrática" no Brasil..

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