CAI A NOITE


Emerjo, devagar, como quem regressa 
do fundo do mar - Para dentro de ti
Como se descobrindo-te tornasse possível 
me encontrar - Se de mim, me perdi
Tenho algumas horas amargas, bem o sei, 
Vagueio, distraída, sem parada em ponto algum
Com lanterna acessa, errante, à luz do dia
Encontro coisas e fatos de coisas que faço 
E faço de conta, não é comigo
Me aborrecem - me prendem pequeninas, 
tolas, vãs - te prendem - pequenas te aborrecem
No mar, no regresso, no inferno - escondido
de ti - em algum sítio profundo
Concentro-me em mim, lanterna apagada, 
há muito - quem diria - em tédio resignado
Tenho buscado um balde de concepção serena
Que não há no mundo - em ti encontro
Um sábio... a sábia medida alegre sem medir a vida
Pequena e íntima fonte, eu te busco prudente
Da sede de beber-te, discreta, farto-me
no teu ideal de tranquilidade - e então tu sabes
Volto, submerjo, devagar, como quem ingressa
dentro de casa - para dentro de ti
Mergulhada no caminho familiar da saudade
Concentro-me só em mim, a declarar-te
Que escondida ou sem rumo, se te busco ou me encontro
Nada há de tão ditoso que me impeça 
De seguir te amando às vezes com vagar ou às vezes
Assim, como agora, 
Eu te amo depressa.

Comentários

  1. Liiiiiiindo.... Cada dia melhor.... Adoro suas palavras tão bem ditas.... Beijo grande.

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  2. Maravilhoso mergulho no oceano interior que te fez transbordar em versos de forma tão linda.

    Parabéns!

    Uma semana maravilhosa para você, Regina!

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  3. Devagar o rápido o amor é lindo!
    Mergulhei bem fundo nestes versos maravilhosos!

    Beijos

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  4. Obrigada, pessoal! É um incentivo. Pe. Antônio Vieira disse que a função do poeta não é contar as coisas como acontecem... É claro que não sou poeta, apenas busco ali, em algumas fontes, versos que estejam dormentes, e os faço vir à tona. Mas confesso que observar com um outro olhar, o mundo à minha volta. tem sido interessante. São dois exercícios: o de observar o mundo cru, para a opinião crítica, e este, de identificar numa fala de alguém para outro alguém, ou para mim, ou de mim para alguém, que seja, enfim, observar e identificar um piscar de olhos, um toque de mãos, um e-mail trocado.... e retirar da situação todo o espírito crítico e cru do mundo, concedendo-lhe asas de poesia. Tem sido um bom exercício. Com o incentivo dos poetas (vocês), melhor ainda. Abraços.

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