E QUANDO FAREMOS A DIFERENÇA?



Estava eu plácida e “suadamente” fazendo minha esteira básica quando aparece no gerador de caracter da TV sem som, a seguinte notícia: "O ativista, ator e diretor George Clooney é preso em protesto contra o governo do Sudão". Imediatamente, sem saber o como, o onde e muito menos o porquê detalhadamente, se iniciou um debate que depois pude ver replicado no twitter e no Facebook. E entre um “também quem mandou? Ou “ele não precisa disto para aparecer” e outro “Pô, o cara em vez de ir pegar uma mulher, fica arrumando encrenca” a pergunta ouvida que mais me fez pensar foi  “Pô, só porque é George Clooney ele pensa que vai resolver alguma coisa sozinho?”

Imediatamente me lembrei do famoso “to make a difference” (fazer a diferença) e o nosso velho provérbio: uma andorinha não faz verão. E mais, como simples locuções podem revelar muito de um povo. Nos Estados Unidos as pessoas são criadas de forma a acreditarem que elas não só podem como devem lutar para fazerem a diferença. Aqui, em todo momento, se é enfatizado que gente comum não pode nada. Que as coisas só mudam se Deus quiser ou assim permitir.

Ou seja, enquanto um país estimula a pessoa a ser ator principal em outro, se tenta convencer que o cidadão comum tem que se contentar em ser plateia. E mais, esta audiência aprende, desde cedo, que se não fizer o que a autoridade do momento mandar, esta chamará um “poder maior” para colocá-la nos eixos. Em bebê, é o boi-da-cara-preta que vai pegar a criança que insiste em ficar acordada e não deixa mamãe dormir. Em criança, dependendo do lugar, pode ser o curupira, a mula-sem-cabeça, o lobo mau ou qualquer outro monstro que irá punir aquele que ousar desobedecer. Nas periferias das cidades grandes é comum ouvir uma mãe ameaçando chamar a polícia caso o filho faça pirraça.

Isto demonstra que até os pais, inconscientemente, consideram que não têm poder sobre os filhos e na hora de impor uma ordem ou vontade apelam para terceiros. A responsabilidade final é sempre do outro. Seja este outro um ser mitológico, o poder policial, o político ou até o divino. Não importa. O que importa é se fingir fraco para não ser responsabilizado por nada. Até boto é culpado de gravidez...

Daí, temos uma nação onde além de uma andorinha não fazer verão, a cidadania e solidariedade social são praticamente inexistentes. Afinal, achado não é roubado, quem vai ao vento perde o assento, farinha pouca meu pirão primeiro, quem foi à roça perdeu a carroça, quem tem padrinho rico não morre pagão, quem tudo quer tudo perde e, já que em terra de cego quem tem olho é rei, de nada adianta reclamar, pois agora Inês é morta e o que não tem solução, solucionado está...

Os ditados demonstram que é permitido você se dar bem, desrespeitando os direitos dos outros, sendo mais esperto, aproveitando todas as oportunidades desde que jamais coloque em dúvida os poderes do divino e do governo. Em uma atmosfera desta é fácil entender porque as pessoas acham que toda ação, mesmo a humanitária, tem uma intenção oculta, de que não se deve perder tempo lutando pelo que se considera justo ou pelo mais fraco apenas pelo senso de justiça e respeito à verdade. Aqui se ensina que fazer a diferença só vale ser for para benefício próprio ou de conhecidos. Grande parte da apatia e da falta da cidadania provém da noção de que a união pode até fazer a força, mas não se pode esquecer que esperar é a melhor maneira de alcançar alguma coisa.

E como sonhar não custa nada, eu anseio pelo dia que haverá algo de novo no quartel de Abrantes e que venha o tempo em que exista espeto de ferro e liberdade para falar até de corda em toda casa de ferreiro e de enforcado. E, sobretudo que o futuro pertença a cada um, para que todos tenham fé em si mesmos e finalmente acreditem que sim, cada ser humano tem o poder de iniciar grandes mudanças.

Mirtes Guimarães, @marcia1907, jornalista mireiroca que traduz o cotidiano para o blog.

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Comentários

  1. Lelezinha_0917/03/12, 20:01

    Taí,Maninha, um fato palpitante!
    Fiquei encantada com a participação do Clooney pró Sudão!
    Como é gostoso ver uma pessoa como ele,bonito,famoso,rico,fazer questão de anunciar sua opinião sobre um assunto tão espinhoso,não? E se não me engano,estava em companhia do própio pai; que coisa bonita,não?É bem uma atitude de pessoa engajada,inteligente,corajosa,sem medo de nada e ninguém!
    E como tem gente pequena neste mundo!Não acreditei qdo li alguém que escreveu:"Tá querendo aparecer!" Querendo aparecer, o George Clooney? rsrs Só rindo mesmo!
    São pessoas pequenas que não alcançam a grandeza da manifestação!
    É...Pois é! Este é o mundinho em que vivemos!
    Uns com tanto,como beleza,charme,inteligência,despreendimento, e outras com uma pequenez do tamanho da própria língua!Pequenez de cabeça,de solidariedade e grandeza de língua comprida p/ dizer besteira!
    Eis aí nosso mundinho difícil de viver!
    Grandeza de alma é para poucos...Se houvessem mais pessoas como "os Clooney" viver seria bem melhor,né não?

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  2. Querida amiga, brilhante texto. E a sua cara, direto, enxuto, soco no olho. Quem dera tivéssemos um Clooney por Brasil, nem falo de uma Jolie e los otros, que já dizem que logo que é estrelismo, descontável em imposto de renda. Só que imposto de renda não é algemado, não carrega no colo crianças doentes e cobertas de feridas...
    Estamos ainda estirados no chão, feito jacarés, nem engatinhando estamos, quando se trata de humanismo. A impressão é que vamos a qualqur momento, escalpelar o irmão e jogá-lo no panelão. Depois, esperar a digestão.
    Prabéns, Mirtes, vc é um sucesso por que existe, é gente e eu, amiga há anos, posso assinar embaixo.
    Bjs, Blues

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  3. Pô Blues, agora eu fiquei ruborizada...
    Brigadim pelo carinho.
    Lelézinha, você é uma fofa.

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  4. Na hora em que vi a notícia da prisão do Clooney lembrei imediatamente de você. O cara faz valer as bolas que tem no meio das pernas. Não precisava de forma nenhuma estar lá mas deu a cara à tapa.

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