CAI A NOITE


Procuro os olhos que acariciam a pele
A passear pelo ar onde a respiração
É a dois, doce. Sôfrega - ou serena
A voz evaporada entre grave e apaziguada
A iluminar as coisas mais simples
Se fala da terra, juventude, do pão ou água.
Procuro o sangue que jorra em fogo
A misturar nas veias onde o penetrar
Torna-se só um, íntimo. Divino - e terreno.

Procuro certa quantidade de palavras precisas
[e preciosas]
Que tanto compõem um apelo, um soneto
Ou gritos de alegria em silêncio compartilhado.
[Cúmplices]
Procuro a ternura súbita da carícia escondida
A navegar pelo caminho onde os dedos
Mudos, leves. Vagueiam - sem destino
Devassam. E chegam onde devem estar.

Apenas procuro-te. E tu me encontras
A apertar-me contra o teu peito
Ávido por meu suspiro - e pelo meu canto
Que ressoa pelos cantos dos teus olhos
Que voltam a me acariciar a pele... E então
Não há mais diferença - a chama genial
Do fogo, da luz esplendorosa que funde-nos
Quando se esvai - mas não quando se ama,
Não chega ao fim. E somos. Ficamos.
E nos encontramos - num poema.

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