A POUPANÇA E UM ENGODO.



A conversa "da hora" é a CPMI do Cachoeira. Sobre a de cujus, e tudo o que não acredito que jamais acontecerá, tanto faz falar hoje ou daqui a uma semana, duas, ou pelo menos, até o início das convenções dos partidos que determinarão os candidatos às eleições municipais, único assunto que tomará a pauta a partir de junho. 

A conversa que deveria ser "da hora" é o confisco dos rendimentos da poupança, anunciado na semana passada pelo governo. Para não variar, nossa imprensa genuflexa voluntária, seja aquela divulgadora dos releases da Secom do Planalto, ou seja seus periféricos, os meros replicantes dos veículos que replicam a Secom, ignoram a regrinha da primeira aula das (antigas) faculdades: "Quem? Como? Quando? Onde? Por quê? Para quem? Para quê?" e as outras tantas perguntas que, afinal de contas, movem o mundo. 

A manchete divulgada é que o governo "muda" ou "altera" as regras da poupança". Mudança, alteração, pressupõe apenas que há algo de novo a ser feito, o que pode originar bom ou mau resultado. No caso de indexação de índice de rendimentos financeiros, pode significar que será para mais, ou para menos. Corrijam-me os entendidos em economia, porque eu não o sou: no meu entendimento, pela nova regra anunciada para a Caderneta, o rendimento da poupança NUNCA será superior ao rendimento pela regra antiga. Os replicadores preferem não apontar claramente para a população que, a rigor, a poupança passará a render SEMPRE MENOS do que rende atualmente. 

A Caderneta, geralmente, é a forma preferida de investimento do trabalhador, que nem vê como investimento, mas como "guardar dinheiro" para emergências ou algum projeto futuro. Deposita o quanto pode, todos os meses, geralmente, pouco. Não faz com intenção de obter lucro, mas para ter uma reserva. Esse cidadão não compreende, até porque a informação não chega, via imprensa (porque o governo assim deseja) que a nova regra diminui o seu retorno MÊS A MÊS. Isso ainda levará um tempo, para ser percebido na prática. É um confisco de retorno do que se deposita para uso do próprio governo, que atingirá democraticamente o rico, mas esse já sabe disso e tem estofo para migrar para outro investimento. Apenas o pobre vai perder, muito. 

Sucede que um país em que já não há estímulo para a poupança, uma vez que alça seu povo à uma "Classe Média C" com indicadores (?) baseados em consumo, ignorando as dívidas acumuladas para tanto pela oferta ampla do crédito fácil e muito, muito caro, além de não ser inteligente, parece-me muito desonesto tirar a possibilidade de rendimento da única aplicação que o pobre tem coragem de fazer. 

A desonestidade institucional e operacional do governo não prescinde de maiores comentários. Mas a "desinteligência" da medida grita um alarme: a tal nova classe média, que dá a impressão de que estepaiz é um país rico e que a vida vai muito bem, obrigada, é ilusão. Não há lastro. Ninguém "subiu" na vida, só pensa que sim porque compra mais, mesmo que não pague. Sem lastro de poupança, não há consolidação dessa "riqueza". Ao perceber que seu sacrifício de deixar de adquirir algo imediato para guardar não lhe dá mais retorno, o trabalhador vai colocar o dinheiro no mercado. Comprar mais. Gastar mais. Endividar-se mais: R$ 50 reais que pouparia nos meses subsequentes irão para o carnê das Casas Bahia. 

Não vou entrar em spreed bancário, farsa da redução dos juros, especulação, mercado imobiliário, nada disso quem vem a reboque. São questões que até consigo entender, ao ponto de saber quão mentirosa é a medida do governo, e quão irresponsáveis são os nossos noticiadores, que não apontam o engodo e suas consequências, porém, colocar em palavras inteligíveis e coerentes é too much para mim. Há vários especialistas em economia e mercado financeiro que fariam isso muito bem. Sei, no entanto, que isso não muda o fato de que estamos cada vez mais à mercê de quem geralmente não sabe o que está fazendo com a economia destepaiz. E eventualmente, quando toma alguma medida sabendo o que faz, é com muita, mas muita mesmo, má-intenção. 

Nós estamos sozinhos. E para estarmos só por nossa conta, o estado sócio-expropriador do impostuinte é grande demais. Não estou querendo fazer intriga, mas fique pensando aí, o que vem pela frente, a partir da aceitação ovina dessa tungada no rendimento da poupança, em breve, muito em breve, surge uma MP que retira totalmente os rendimentos (ou coisa pior) de depósitos superiores a R$ 50 mil. Ou a R$ 30 mil... 

Comentários

  1. Segue a máxima daquele ex-ministro dos anos 90, "o que é boom a gente mostra, o que não é bom a gente esconde..."
    A sociedade não consegue eleger gente que preste. Quer escândalo maior que liberação apressada de emendas por causa da CPMI do Cachoeira?

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