ENTRAR PARA A HISTÓRIA É GOVERNAR COM BOLSA



É justo considerar esperando que o indivíduo aja tão somente de acordo com a sua natureza. Por exemplo, os cães latem, não se espera desses animais que piem como pássaros. Assim é mediante a natureza de todos os seres vivos. Há muito, uma década, para ser exata, o momento político por que passa estepaiz não deixa dúvidas: há uma verdadeira crise de valores, institucionais e morais, em voga, e é de total acordo com a natureza degradada dos nossos governantes. Infelizmente também torna-se essa, cada dia mais, a natureza de nossa "sociedade", pois as esferas dos governos nada mais são que reflexo dos seus eleitores.

A crise institucional é aquela promovida pelo estado através de seus agentes de governo e é bastante óbvia. Até o presente momento, o sucesso desse desgoverno foi a publicidade de "ações", que com muito pouca execução ainda tornam-se tortas, torpes e defraudadas. Lança programas que jamais chegarão a cabo, e o faz com um grande estardalhaço. O de hoje, 19/02/13, é o anúncio - sempre anúncio de algo futuro - de que o Bolsa Família enfim tirará todos os seus beneficiários da miséria, a mesma que Lula também em propaganda para eleger sua sucessora, dona Dilma, jactou-se para o país inteiro que já ele própria extirpara. 

Para exemplificar duas das áreas onde, diferentemente da "teoria" sobre miséria e Bolsa Família acima tal crise institucional é bem palpável, visível, cito a segurança pública e a saúde, que retratam com perfeição as conseqüências de tanto desinteresse, incompetência, inércia institucionais: uma olhada mesmo que superficial no mais recente Mapa da Violência no Brasil, com seus - nossos -  50 mil assassinatos/ano, mostra-nos que a violência nos cerca por todos os lados na proporção da inoperância do governo em lidar com ela e com todo o processo que envolve a segurança pública: das fronteiras abertas ao tráfico de armas e drogas, passando por crimes de encomenda, ataques terroristas  contra civis e policiais comandados de dentro dos presídios, latrocínios, até as mortes por motivação passional, há um sem-número de inações de todos os envolvidos, que contribui para a realidade difusa onde os rumos da insegurança tornam-se imprevisíveis. 

Já a saúde pública dispensa maiores observações. O Sistema Único de Saúde, que concentra as ações, programas, distribuição de recursos e sua aplicação, etc., é a tragédia em si. Está nos jornais locais e nacionais todo dia. Tanto o SUS à beira do túmulo quanto a insegurança pública na UTI deveriam receber constantemente a atenção do governo. Ocorre que isso implicaria em planejamento e ação. Em outras palavras, trabalho e competência. Publicidade e propaganda de Bolsa Família evita fadiga.

Há, pelos agentes que operam o governo, através da ideologia de seus partidos principais, uma imposição sistemática e sectária da falta valores por que se caracteriza a esquerda contra a submissão passiva da maioria da sociedade conservadora. Tudo o que diz respeito aos seus interesses, carece de que a sociedade seja engessada, paralisada, onde cada cidadão que a compõe seja cada vez mais incapacitado de pensar - e agir - por si. Estepaiz que um dia já foi Brasil e agora é CorruPTópolis, vive sob o efeito de uma massa de propaganda ilusória. A ditadura da felicidade que tem esses objetivos específicos de favorecer a permanência dos agentes cujos bolsos ficam cada vez mais abarrotados de taxas de sucesso em episódios de corrupção, promove todo tipo de investida com o verniz social e politicamente correto que se impõe sem perdão. O anúncio da "extinção da extrema pobreza" é um grande exemplo da propaganda de felicidade que escraviza o eleitor na boca de urna.

Diante de qualquer penúltimo escândalo de corrupção (sempre há o próximo), o governo defende que o essencial é que os seus criminosos particulares pareçam muito inocentes, que as suas virtudes, pela graça do nascimento, não possam ser postas em dúvida, e que os seus crimes passem como tendo sido apenas uma infelicidade passageira, uma bobagem qualquer, nunca sejam senão provisórios, claro, e por culpa exclusiva de golpistas que ousam atacá-los, contra o bem do povo. 

Os golpistas são a parte rara da imprensa que não lhes presta genuflexão, que descobre e/ou divulga os males governamentais que há por aí; alguns cada vez mais raros políticos da oposição que não tenham velcro super-aderente ao "governo de coalizão republicano"; é qualquer instituição investigativa, como Ministério Público Federal, que, a propósito, é vítima de uma campanha sistemática de tentativa de mordaça, impedimento de investigação e punição para membros que acaso ousem investigar e acusar governos e governantes. Até chegar nos tribunais, que, em circunstância alguma devem cometer a insanidade moral de considerá-los culpados, menos ainda, atribuir-lhes quaisquer penas.

Com uma bala no peito, em 24 de agosto de 1954, no Palácio do Catete, o presidente Getúlio Vargas suicidou-se, deixando em sua carta-testamento-de-despedida, a frase que certamente é uma das mais famosas da história do Brasil: "Saio da vida para entrar para a História". A civilização não é, de fato, algo fácil de se atingir. Cá, em CorruPTópolis, ela fica cada dia mais longe. Nem de longe, sugiro o suicídio de um governante como uma solução para a evolução rumo à civilização. Trata-se do contrário. Necessitamos de um governo - por pressuposto, seu comandante, o Presidente da República, que saia do faz-de-conta, da empulhação e da teoria. A que aí está, não o fará. O papel então, cabe à sociedade. Mas para tal, cada indivíduo que a compõe deve sair do torpor em que se encontra. É a vez de cada um subverter a famosa sentença cunhada na despedida fúnebre de Getúlio Vargas. 

O brasileiro precisa sair da História para entrar na vida.

Ilustração: de Hieronymus Bosch, Jardim das Delícias Terrenas.
Este blog utiliza-se da arte atormentada e ao mesmo tempo lúcida de Bosch, 
sempre que precisa representar esses nossos tempos de Idade das Trevas.

Comentários

  1. Quem nos salvará de nós mesmos ? Hoje já achamos cômoda a "posição de joelhos", amanhã "acharemos normal" estarmos de bruços... INDEFESOS.

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