CAI A NOITE


Fixo os meus olhos nos teus, e aí
Lastimo minha imagem ardendo nos teus olhos.
A minha imagem afogada numa lágrima transparente
Descubro, quando olho mais para baixo.
Tivesses tu a maldosa habilidade
De matar através de imagens feitas e desfeitas,
Por quantas formas não executarias a tua vontade!

Mas agora bebi as tuas doces lágrimas salgadas,
E ainda que mais derrames, eu partirei:
Desaparecida a minha imagem, desaparece o medo,
De que possa ser lesado por tal arte;
Embora retenhas de mim
Ainda uma imagem, seguramente essa estará,
Dentro do teu coração, livre de todo o mal.

John Donne

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