PENSAMENTO NEGLIGENTE


Muitas coisas acontecendo nestepaiz. Ou não? Na verdade, nada acontece de fato, apenas de boato? Coisas importantes, que devem ser mencionadas, apesar - ou por isso mesmo, já que o país tem um desgoverno Dilma para chamar de seu - de se ter apenas notícia ruim. Competência no governo Dilma é uma galinha com dentes. A toda evidência constitui-se um movimento político sofismático, que esconde uma agenda oculta. Todos os anúncios de ações são no sentido de apenas mascarar a incapacidade do governo do PT, isso bem sabemos. O resto todo dos seus problemas é de caráter, mesmo. De imoralidade pública, os desmandos de corrupção, que ao contrário da galinha ali acima, são bem comuns e fáceis de encontrar.

Muitas coisas acontecendo nos meus dias comuns, me fazendo negligenciar as escritas do blog. Estou sempre a alvorecer com o pensamento de viés político organizado, o que não organizo bem ultimamente, é o tempo de produzir para mim mesma. Numa auto-justificativa para minha própria acomodação, chego a pensar se comentar as notícias ruins é preciso. Todos os que sabem das coisas já comentaram, ou o fazem no olho do lance. Não preciso discorrer sobre elas, o que é importante já foi dito, dentro de outra imensidão de coisas que não são importantes mas sempre ditas para nebulizar o cenário. 

Fora dos momentos de trabalho, sinto-me tentada a render-me ao padrão "a vida é bela", aquele facebookiano, principalmente. Tentada a invejar os discursos fáceis, porque são sempre pensamentos óbvios, com um make up bonitinho, perfumado, até, e que não exigem da mente nenhum esforço. Entram na cabeça e grudam, que nem rima ruim de música ruim, aquelas que a gente decora sem se dar conta. Pensamentos assim dão a ilusão de que tudo está bem, ou, no mínimo, que ficará bem. Faz parte do pacote que aplica o golpe da felicidade fácil, mas quem gosta deles não está atento a este pacote.

Nélson Rodrigues disse que, muitas vezes, é a falta de caráter que decide um lance. "Não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos". É uma visão da realidade que o escritor narrava com lucidez excepcional. Dessa forma, qualquer coisa que remeta à essa realidade, podemos concluir, são mais difíceis de serem aceitas. Fazem pensar. Causam estranheza. Comumente, a realidade desaponta, traz desesperança. Desnuda faces cruéis - a realidade é cruel - e secas de aspectos malogrados dos recônditos do ser humano. Dar de cara com a realidade espanta, desagrada, desagrega. Mas eu nunca consigo gostar do que é muito fácil.

Talvez um meio-termo para este (meu) escape seja a poesia. Vejamos, um dos gênios do gênero, Fernando Pessoa, escreveu - e deve ser sua citação mais famosa - que "tudo vale a pena se a alma não é pequena." É lindo, de fato. Só não pode ser alocada para dentro da vida real. Senão, não se sustenta: instale a frase imortal no seu cotidiano. Insira-a nos seus problemas mais comuns. Encaixe toda a beleza poética na prática, em suas perdas e ganhos. Em sua realidade de cidadão, de pai ou mãe, de filho, de profissional ou estudante (que não seja algum viúvo de Che num #Occupy revolucionário qualquer que se denominam "manifestantes", que é a modinha da hora) de um simples mortal com contas a pagar. Pior, de um impostuinte. Ponto, volta a linha, parágrafo.

E aí, tudo vale a pena? Sei. Você pensou e ainda acha que sim, vale. Então tá. Deixemos o que vale a pena e vamos ao tamanho da alma. Quem tem uma régua medidora de alma? A escala é a mesma para todo mundo? A percepção disso é a mesma? "Se a alma não é pequena", não é pequena para quem, cara-pálida? Pequena para si mesmo, sim, você, aquele que acha que tudo vale a pena? Ou pequena para o outro, que certamente se beneficia da sua (nunca dele) grande benevolência, do seu sacrifício, da sua integridade, da imensa vontade que você tem de ser um seguidor de princípios que ninguém, absolutamente ninguém segue com tanto afinco quanto você, que faz de tudo pra que a alma (nem a sua nem a dele) jamais seja pequena.

Nada vale a pena se a alma é pequena. A outra. A minha, gosto de pensar que seja grande. E nem por um segundo minha alma grande acha que tudo vale a pena. Considerem isso como ceticismo. Visão cínica, implicante, ou qualquer outra designação. No que diz respeito a pensar ou fugir, opto por pensar. Mesmo que não consiga concatenar, enquadrar o pensamento, e traduzir para as letras deste meu companheiro virtual, o blog. 

Para a vida real, Nelson Rodrigues. Para todos os outros momentos, existe Fernando Pessoa. Aplicando esta configuração em mim mesma, chego a ter dúvidas se este meu pensamento negligente ainda configura o ato de pensar.

Comentários

  1. Jorge Lima14/07/13, 10:30

    Impostuinte não é um conceito advindo do pensamento negligente, pelo contrário é interpretação aguda, ácida, da realidade.

    Encerrei meu feici a meses por senti-lo invasivo em minha privacidadae, mas pesou muito, talvez até mais, a xaropada perfumada das literatices moralistas que eu tb não aplico no dia a dia.

    Gostei do termo impostuinte e que pseudo iluminados(as) e impostitutos(as)querem impingir.

    ótimo de ler e de me reler também.
    Identificação geral.

    Abração.


    Jorge

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  2. Negligente nada...!
    "Movimento político sofismático que esconde agenda oculta" foi na veia !
    Alta precisão !
    Valeu.

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