O MESSIÂNICO: ENTRE O PSICÓTICO E O PSICOPATA


Evita Perón, Fidel Castro, Hugo Chavez, Reverendo Moon, Stálin, Gandhi, Mussolini, Lênin, Antônio Conselheiro, Jim Jones. Lula. Hitler. Marina Silva. O que essas pessoas supostamente tão diferentes, têm em comum? O messianismo. É um movimento que se cria em torno de um líder, que teria sido enviado para o povo, uma sociedade ou grupo com a missão de libertar a humanidade de si mesma. Esse líder torna-se uma entidade com poderes e tarefas sempre mobilizadoras, com discurso febril e fervoroso a favor desse povo, nunca a favor de si mesmo (em tese). Uma entidade incumbida pela "Providência Divina" para cumprimento de uma missão superior. Pessoa ungida, de boas intenções e coração puro, pronta para se sacrificar pela causa, tornando-se, inevitavelmente, A Causa. Esses líderes podem ser, como os elencados acima, religiosos ou políticos. Ocasionalmente a História brinda o mundo com um líder messiânico religioso e político, e aí o seu fundamentalismo que é sempre perigoso, passa a ser letal.

Templo dos Povos, Família Arco-Iris, Borboletas Azuis, Caldeirão de Santa Cruz do Deserto. Força pela Alegria (do Reich, A Grande Geração). Rede Sustentabilidade. Todos são nomes dos movimentos messiânicos desses líderes. Nomes pomposos, "iluminados", esotericamente envolventes que conduzem a turba à causa personificada no líder, ao prometer-lhes um mundo novo, uma nova era, uma nova Utopia. São denominações meticulosamente escolhidas para passar de imediato uma ideia de "movimento" sacrossanto para que não pareça bom que haja oposição. O movimento é também o escudo, o manto de proteção do líder, o que, no caso de um político, exime-o de ser competente. Tudo o que fizer de errado e que deixar de fazer de certo tem desculpa pronta: é o movimento. É o coletivo, é algo maior que está acima da capacidade de entendimento dos que não foram tocados por sua luz.

O messianismo conta com técnicas apuradas de manipulação de massas pela comunicação, utilizando com afinco do meio e da mensagem para atingir a psique profundamente, de forma a convencer os seguidores que aqueles ideais devem ser perseguidos, e que só O Líder pode conduzi-los à evolução para lhes trazer a redenção. A manipulação das massas é alvo de estudos diversos ao longo da história, sob várias das ciências da mente e sociais. Da psicanálise de Freud (A Psicologia das Massas) até Seguei Tchakotine (A Violação das Massas pela Propaganda Política*) passando por Jung e a sociologia de Elias Canetti (Massa e Poder), todos têm um ponto em comum: a manipulação do inconsciente coletivo, a destruição da razão pelo ideal, pelo sonho, pela promessa do Éden que jamais se cumprirá. E a incansável sede de poder e dominação.

"A qualquer momento alguns milhões de homens e mulheres podem ser acometidos de uma ilusão, uma epidemia psíquica, estopim de revoluções e guerras devastadoras”, adverte Carl Jung, que sempre temeu a ameaça dos poderes elementares da psique humana e diz que o psíquico se tornou uma grande potência que supera muitas vezes todos os outros poderes da Terra. Já na obra de Canetti há uma teoria que explica o movimento que se vê no Brasil eleitoral de 2014: os Cristais de Massa, que dão o nascimento, a expansão e a dissolução das aglomerações e catalizam as carências dos indivíduos, os reúne, ordena e conduz criando assim a malta, formada por pessoas psicológica e intelectualmente inferiorizadas pelo poder. É esse o poder que um líder messiânico detém, e manipula ao seu favor.

O messiânico sempre será ou psicótico ou psicopata. Quando ele próprio acredita ser ungido à liderar a massa numa missão, tem visões em sonhos ou epifanias, é psicótico. Quando usa o messianismo por opção, friamente, de caso pensado, para obter o poder e realizar os seus próprios intentos, é psicopata num dos graus mais elevados (são 25 os níveis de classificação da psicopatia). Psicótico ou psicopata, nenhum dos dois pode governar um país. Nenhum dos dois deve deter em si o poder dos destinos de toda uma nação. Porque o psicótico tem o fim em sua própria loucura. Mas quando a causa do messiânico naufraga, e isso sempre acontece, o movimento de toda a quadrilha chega ao fim junto com o poder do líder. O que entra para a História é apenas o psicopata.

*O livro de Tchakotine foi traduzido para o português por Miguel Arraes, avô de Eduardo Campos, o falecido candidato do PSB que deu lugar à candidatura messiânica de Marina Silva. A História é, além de cíclica, muito cínica.

Comentários

  1. Essa ultima frase, além de lapidar, fecha o assunto e qualquer possibilidade de reargumentação "A história é, além de cíclica, muito cinica."

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  2. Excelente texto, Regina. Como fico feliz ao ver uma inteligência operando! Tudo o que se sabe e se saberá sobre o fenômeno Marina, já está dado aí. Excelente dia!

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  3. Não discordo da abordagem, mas uma explicação mais completa do fenômeno político Marina inclui a receptividade que ela tem, que pode ter sido adrede construída, e não apenas encontrada.

    Não formulei teoria, mas encontrei fatos que bem podem estar unificados por uma ação concertada. Ao acaso, procurando no google um seu apoiador para ver o que dizia, entrei numa página do Guaxupaz - Movimento de Cultura de Paz de Guaxupé-MG (http://www.guaxupaz.com.br/web/index.php/cultura-de-paz-2/participacao-democratica/109-marina-silva-incentiva-o-ativismo-autoral). Desconfiei ser um nome genérico com sufixo local e pesquisei por "Movimento de Cultura de Paz": achei um comitê paulista (http://www.comitepaz.org.br/a_unesco_e_a_c.htm) e um nacional (http://www.comitepaz.org.br/), além de um cabo-verdiano com o sugestivo e escroto nome de Ditadura do Consenso (http://ditaduradoconsenso.blogspot.com.br/2013/03/movimento-nacional-da-sociedade-civil.html).

    Então, pelos conteúdos de todos estes, parece apropriado inferir que a UNESCO vem há muito preparando a cama para uma Marina deitar-se.

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  4. Alguém postou hoje no Twitter o link de uma entrevista de Marina, datada de 27 FEV 2013, quando ainda tentava constituir a Rede. Ali, aproximadamente aos 1' 10'' ela cita a expressão Cultura de Paz.
    Estou achando que Marina é candidata da ONU.

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