LEI DO CALOTE: A NOITE DOS DESESPERADOS


A Noite dos Desesperados é o título em português de um filme da década de 60, que se passa no ano de 1932. Com o desemprego e a miséria por causa da recessão, um concurso promove uma maratona de dança que oferece 1.500 dólares para o casal que agüentar mais tempo. Os participantes devem dançar durante duas horas sem parar, com dez minutos de descanso. Se quiserem dormir devem fazê-lo de pé, apoiados em seus parceiros. Também não podem sentar-se para comer. Banho, necessidades fisiológicas, descansar as pernas, tudo apenas naqueles dez minutos. Se alguém cai tem dez segundos para se levantar, como na contagem de nocaute do boxe.

Foram 19 horas de sessão do Congresso Nacional, com singular resistência, firme, da oposição. Os parlamentares não-vendidos mostraram disposição aguerrida, e o público que também resistiu bravamente acompanhando tudo ao vivo, foi brindado com diversos momentos de brilho dos opositores, na tentativa de impedir que a Lei do Calote seja instituída e livre a regovernanta Dilma Rousseff de pagar por crimes de responsabilidade. Apesar da aprovação do texto-base que estupra a LDO, a oposição derrubou a sessão às 5 horas da manhã sem que o governo conseguisse impor a aprovação dos destaques. Nova sessão para dar continuidade à votação foi marcada para a próxima terça-feira, ao meio-dia.

Valeu o esforço da oposição, mesmo sabendo que o PMDB aproveitará esse tempo para impor a sua agenda particular de negociação, que passa longe da promessa (vã) do empenho de emendas ao OGU. Por volta das 4 da manhã a maioria dos postulantes a cargos no primeiro escalão da República Dilmopetista estavam sentados à Mesa, junto do presidente do Senado Renan Calheiros, perfilados, numa mensagem claríssima para o governo: "Estamos aqui mostrando serviço, vamos enviar a fatura". Estavam lá Jucá, os Eduardos Braga e Cunha, Henrique Eduardo Alves dentre outros, que salivam pavlovianamente à espera da parte que lhes cabe neste latifúndio de inoperância e desmandos que entrará no 13º ano em 2015.

Mesmo com o resultado que pode parecer vitória, foi uma noite dos desesperados para o governo Dilma, que deu sinais claríssimos de que está preocupado com o risco que essa medida impõe ao mandato da de cujus. Lá dentro do Plenário, nas poltronas das salas de descanso nos fundos, no cafezinho, por todo o lado, via-se nos semblantes de vários governistas a tensão, o medo de derrota. Não estavam - e ainda não estão - preparados para enfrentar esta oposição determinada e que tem, ao seu lado, o principal: o amplo apoio popular. 

O comportamento dos parlamentares governistas foi vexatório. A cada discurso de um da oposição, gritos, ofensas e provocações eram deselegantemente desferidos pela trupe de bate-paus de Dilma. Durante o excepcional discurso de Aécio Neves, o que se viu foi o afloramento da baixura que só os petistas são capazes. Vaias e gritos tentavam desconcentrá-lo e calá-lo, e muitos provocavam-no: "e o aeroporto?". A reação, enquanto Aécio dirigia-se aos brasileiros que se orgulham de nele terem votado, foi estupenda. "Para! Chega! Vai ter troco", dedo em riste, avisava o deputado Emanuel Fernandes (cujo trecho do fortíssimo discurso que fez depois das 2 da manhã está em destaque na imagem que ilustra este post: uma traulitada na hipocrisia dos esquerdo-governo-petistas. Você pode ver o vídeo clicando aqui). "Vou dar o troco: Mensalão! Petrolão!", insistia o deputado paulista no meio do Plenário, calando a manada ao colocar nos seus cangotes a récova que lhes cabe pela corrupção instituída pelo PT. Aécio Neves, não alheio à defesa do seu colega, sorria discretamente na Tribuna.

O desespero governista foi mostrado por Henrique Fontana, que apesar de uma proposital classe que o distancia léguas dos demais muares governistas, comentava ironicamente os discursos oposicionistas. Não faltaram provas do desespero em outros espécimes da fauna aliada que, cada qual ao seu modo, provaram suas insignificâncias a cada intervenção. O toyboy dos politicamente corretos socialistas defensores dos Black Blocs, o senador amapaense Randolfe Rodrigues, ensaiou um discurso raivoso como que possuído por um espírito justiceiro contra o que ele chamou de "ultraliberalismo". Foi um vexame não apenas pela sua voz ultradesagradabilíssima, mas porque protagonizou a volta do estilo "Fora FMI", com aquele mau cheiro comunista vintage dos anos 80. Um perfeito quinta-coluna do PT que apenas causou gargalhadas em quem o assistia.

O destaque da Noite dos Desesperados, no entanto, com louvor, deve ser para a atuação patética da deputada Jandira Feghali, que em arroubos autoritários constantes, berrava exigindo que cortasse o som do microfone o tempo todo, ordens de bate-pronto obedecidas por um cínico Renan Calheiros que chegou a pedir que "não me acusem de ser democrata demais". Feghali lambeu a sarjeta de Dilma com maestria rastaquera e abjeta, provocando o gigante senador eleito de Goiás, Ronaldo Caiado, que já estava rouco àquela hora. "Ronaldo Calado", debochava. Sem se calar, registre-se, Caiado proporcionou as melhores respostas aos azurros da comunista: ignorou-a. Discursou várias vezes falando diretamente para a presidente e para os brasileiros que lhe assistiam, honrados, sem dar a menor confiança às cenas de uma ressentida.

Menção de louvor é registrada por este blog ao senador Osmar Terra, da base de apoio do governo. Ele tomou lugar à Tribuna para declarar-se contrário à aprovação da Licença para Matar a Responsabilidade Fiscal que é o PLN 36, corajosamente afirmando que não pode ser confundido com quem se vende.

Para compreender bem o quadro de desespero, acrescente-se às apelações narradas acim o fato de o governo obrigar parlamentares da base aliada a 19 horas de sessão initerruptas, muitos deles senhores em idade avançada, numa verdadeira tortura física e psicológica. Inclusive, desmoralizando-os diante do Brasil e do mundo como os mais vis e sem escrúpulos políticos que se venderam por 700 mil dinheiros. Este cenário já basta para provar que alguém lá no Palácio do Planalto deve entender (e avisar Dilma) o tamanho do problema que a presidente da República pode enfrentar, caso tudo o que deseja não seja aprovado. A Lei do Calote é uma porta escancarada para imputar-lhe o impeachment amplo, geral e irrestrito. Esta é uma razão forte para que a oposição continue a contar com nosso apoio, para que na terça-feira, não deixe um só destaque que favoreça mais crimes serem cometidos por essa inepta reeleita.

Cabe, talvez hoje mais que nunca, um cumprimento feliz e sonoro a cada brasileiro que, como eu, assistiu com um orgulho quase imoral de tão grande, a reação sistemática e poderosa dos NOSSOS representantes, contra o salvo-conduto para os crimes tão comuns nas mentes e atitudes do governo petista. São eles, o PT e os seus aliados, os chupa-pobres que desgraçam a Nação que, um dia, antes de tomarem de assalto o poder, já foi o Brasil. 


P.S.: Enquanto A Noite dos Desesperados é metáfora perfeita para o governo, a oposição merece A Mulher Faz o Homem (Mr. Smith Goes to Washington), filme de 1939 que só não venceu o Oscar porque concorreu com E o Vento Levou. Um cidadão ingênuo e simples é convidado a se tornar senador dos Estados Unidos e aos poucos descobre-se em um mar de lama que ameaça tudo o que ele acreditava em relação ao caráter dos comandantes de seu país. O título em português, apesar de estranho, faz alusão à assessora do gabinete que lhe ensina a técnica de obstrução, que se chama Filibuster, e lhe dá apoio. Nos EUA, a obstrução exige que o congressista fale sem parar - sem parar, mesmo - e só termina quando este desiste ou encerra-se o prazo para a derrubada da votação. Veja abaixo, a cena do discurso no filme. Infelizmente, não encontrei com legendas.

Comentários

  1. Salve Regina, boa tarde!
    Parabéns pela descrição fidedigna do que foi e como foi a noite de ontem e a madrugada de hoje no Congresso Nacional.
    Lutamos o bom combate, perdemos na votação, mas não perdemos a honra, a dignidade.
    Os nossos filhos e netos irão sentir, infelizmente, as consequências da aprovação desse ultrajante PLN 36/14, teremos aumentos da dívida pública, dos juros, da inflação, do desemprego e do câmbio, e a Lei de Responsabilidade Fiscal será jogada no lixo doravante.
    Infelizmente, 90% do povo está completamente alienado do que está ocorrendo, quando perceberem o grande erro que cometeram reelegendo a Dilma já terá sido tarde demais.
    Vamos em frente, com a certeza de que a nossa parte está sendo feita.
    Forte abraço !!
    @BobWebBB

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  2. Muito bom seu texto. Votei por duas vezes no Emanuel, em SJC.

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    1. Obrigada, Júlio, volte sempre se gostou. O deputado Emanuel é um dado civilizatório da política nacional, tão árida de pensadores que não são apenas isso, mas coerentes em conduta e história como homens públicos, com o que defendem. Fará falta ao Parlamento.

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  3. Brilhante! Vale lembrar o Tiririca que se destacou e não se dobrou ao Planalto. Por outro lado, Rodrigo Rollemberg, o candidato de Marina ao governo do DF, garantiu o quórum e ainda votou com o Planalto. Lamentável.

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  4. Sandra Sallee08/12/14, 15:01

    Bravo , Bravo !!!!
    Assunto totalmente entendido . Parabens pelo texto esclarecedor .
    Parabens aos Congressistas que estao se opondo a mais uma vergonhosa tramoia dos corruPTos .

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