CAI A NOITE
Desejo dar uma volta por aquelas altas e áridas cordilheiras de montanhas
onde se morre de sede e frio, por aquela história "extratemporal",
aquele absoluto de tempo e espaço
onde não existe homem, nem fera, nem vegetação,
onde se fica louco de solidão, com linguagem que é de meras palavras,
onde tudo é desengachado, desengrenado, sem articulação com os tempos.
Desejo um mundo de homens e mulheres, de árvores que não falem
(porque já existe conversa demais no mundo!)
de rios que levem a gente a lugares, não rios que sejam lendas, mas rios que ponham a gente em contato com outros homens e mulheres,
com arquitetura, religião, plantas, animais.
Rios que tenham barcos e nos quais os homens se afoguem,
mas não se afoguem no mito e lenda e nos livros e poeira do passado,
mas no tempo e no espaço e na história.
Desejo rios que façam oceanos como Shakespeare e Dante,
rios que não se sequem no vazio do passado.
Tenhamos um mundo de homens e mulheres com dínamos entre as pernas,
um mundo de fúria natural, de paixão, ação, drama, sonhos, loucura,
um mundo que produza extâse e não peidos secos.
Creio hoje mais do que nunca é preciso procurar um livro
ainda que de uma só grande página:
precisamos procurar fragmentos, lascas, unhas dos dedos dos pés,
tudo quanto contenha minério,
tudo quanto seja capaz de ressuscitar o corpo e a alma.
(Henry Miller)
Li Os Trópicos de Miller cedo demais, imatura de todo e custei a entender que ele também fazia poesia...
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