CAI A NOITE



Crucificam-me e eu tenho de ser a cruz e os pregos. 
Estendem-me a taça e eu tenho de ser a cicuta. 
Enganam-me e eu tenho de ser a mentira. 
Incendeiam-me e eu tenho de ser o inferno. 
Tenho de louvar e de agradecer cada instante do tempo. 
O meu alimento é todas as coisas. 
O peso exato do universo, a humilhação, o júbilo. 
Tenho de justificar o que me fere. 
Não importa a minha felicidade ou infelicidade. 
Sou o poeta. 

Jorge Luis Borges

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