ESTEPAIZ, CACHOEIRA ABAIXO

"Todas as vezes que um poder qualquer for capaz de fazer todo um povo contribuir para um único empreendimento, com pouca ciência e muito tempo conseguirá extrair do concurso de tão grandes esforços algo de imenso, sem que com isso seja necessário concluir que o povo é muito feliz, muito esclarecido ou mesmo muito forte."
Alexis de Tocqueville, em 'A Democracia na América'



Cachoeira ganhou status de VIP. Very Important Personal é aquela que não precisa de mais nada junto ao nome para todos saberem de quem se trata. Diga Gisele e ninguém vai perguntar se é a espiã da Resistência Francesa que, nua nas camas do alto escalão nazista, abalou Paris. Ninguém vai perguntar se é o Ballet. Todos pensarão, mesmo que não seja, tratar-se de Bündchen. Pois assim é com Carlinhos Cachoeira, O Contraventor. Desde que foi preso na Operação Monte Carlo, é o dono absoluto do noticiário. Até quando Looola, Sua Majestade Imperador Primeiro do Hospício Mensaleiro veio a ocupar o centro do palco com a chantagem ao Supremo Tribunal Federal - Gilmar Mendes, membro do STF, como qualquer outro, É a instituição - tudo convergiu para Cachoeira, já que muitos acreditam que ele ganhou uma CPMI para chamar de sua tão somente por causa da necessidade de tirar o julgamento do mensalão de foco. 


Tudo em torno do Cachoeira envolve o poder paralelo que faz o poder da política: a corrupção, o verdadeiro mal do século. Nesse caso, há corrupção no varejo e no atacado, em miudezas como pedir um emprego de décimo quinto escalão para conhecido de parente de amigo do bicheiro, como chega aos casos com a construtora Delta, que sequer ainda vieram a tona que certamente, existem aos borbotões. 

Muita gente diz-se indignada, e indignada com a "sociedade civil" que não se mobiliza contra tudo o que aí está. Daí começam a clamar por OAB, ABI (viúvos dos cara-pintadas do Collor) até que, ei-la, a UNE. A União Nacional dos Energúmenos estudantes profissionais, que para nenhuma surpresa dos inteligentes, surgiu nesse fim de semana como protagonista de.... corrupção! 

Muita gente acredita na balela de que a "Primavera Árabe" tenha sido 1. uma "boa" revolução (e nenhuma é) surgida no seio da população, e não nos outros movimentos tão sanguinários quanto o que pretendeu destronar e 2. foi realizada graças às redes sociais. Dois embustes que pegaram porque assim alguém quis, e os esperançosos indignados brasileiros, os piqueteiros de hastag, passam os dias a cobrar que o povo se revolte e vá para as ruas como o "povo" egípcio. Não vai acontecer. E não, não se trata de desânimo meu, ou desesperança. É apenas realidade. 

Uma "revolução" só acontece onde há evolução. O que temos nestepaiz é a evolução "cachoeira" abaixo. Entramos em processo de involução há uma década. Não se evolui sem a liberdade de pensamento, e a amplitude do pensamento só é conseguida quando a sociedade - o estado e todas as suas instituições públicas e privadas - fazem por onde formar gerações que gostem e saibam pensar, cada um por si. É a força de cada indivíduo que forma a sociedade, e não seu oposto. Num estado sério de uma democracia vigorosa, cada cidadão seria capaz de se definir livre, e cada um, junto de cada um, formariam uma sociedade livre. Isso não ocorre no Brasil, porque caminhamos no sentido contrário. 

São inúmeras as maneiras de se exercer o poder. Insidiosamente ou pela força, fato é que trata-se de um desejo perseguido por todos os que almejam cargos públicos. Ser O Estado e gozar dos seus benefícios pessoalmente e/ou através de um pequeno grupo com os mesmos interesses. A democracia corre risco quando "o poder" não encontra, diante de si, nenhum obstáculo que contenha sua marcha, de forma que ele possa moderar-se, a si mesmo. É absurdo o pensamento atual em vigor que delega ao estado o poder de fazer com que o indivíduo passe da condição de ser pensante e razoável, à condição de animal bruto, autômato, guiado. Para proteger sua forma de exercer o poder, está-se formando gerações propícias a sempre serem lideradas, em benefício, obviamente, do estado. Não há evolução alguma. E é da natureza que, sem a necessidade de evoluir por não precisar lutar por sua sobrevivência, o caminho natural é a extinção. A natureza, essa mãe espertinha, tem horror ao vácuo, e ela trata de substituir os que se deixam extinguir. 

No Estado Democrático de Direito de uma democracia pujante, um governo sério não dá guarida para defesa de legislação que contraria as qualidades do homem de bem, o cumpridor das leis, o honesto, justamente para maquiar o fato de que não é competente em assumir suas funções: coibir o verdadeiro crime e puni-lo, seja na esfera colarinho branco ou no ladrão de caixa de padaria, até chegar ao crime organizado do tráfico de drogas e armas pesadas que corre solto via fronteiras abertas. 

No Estado Democrático de Direito não caberia, por não ser necessária, a discussão sobre liberdade e leis. A primeira é garantida incondicionalmente pela segunda, em qualquer democracia amadurecida. No Brasil transformado nestepaiz, no entanto, não apenas discute-se de forma incipiente e tatibitate sobre leis e liberdade que foram discutidas nos Estados Unidos no século XVIII, como discute-se a criação de leis que, sob o pretexto de o estado precisar proteger o cidadão, acaba por cercear as suas já garantidas liberdades individuais. Nada mais é, isso, do que a raiz de um estado totalitário. Na nossa tão imatura democracia, na realidade, há excesso de poder e de leis sem força para sejam cumpridas. Leis assim são inúteis. Lei e poder, sem liberdade, é despotismo. Liberdade e poder, sem lei, é anarquia. E atentem para isso: Poder sem lei nem liberdade, ou cuja liberdade é impedida por lei, é tirania. 

Não há "revolução" popular, seja de hastag ou de panelaço, que tenha resultado, porque os agentes são os mesmos. Nós votamos nesses que aí estão. Enquanto continuarmos votando nos de sempre, continuaremos acusando "os culpados de sempre", como no final de Casablanca. A minha conclusão é de que falta-nos orgulho e racionalidade. Que cada indivíduo assuma a sua própria responsabilidade de buscá-los, a fim de que um dia tenhamos um estado igualmente responsável. E onde leis se façam de forma que punido seja o crime, não a honestidade, tanto faz se o crime é de Beira-Mar ou de Cachoeira.

Comentários

  1. IMundis acham que temos liberdade pelas leis que fazem, nao porque as leis foram feitas para garanti-lá, já que é natural, a liberade, para. O indivíduo.
    Este pais evoluirá um dia.

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