ARTE DE DESATAR LAÇOS

Atar laços, bonitos e duradouros, é uma arte. Escolher a fita, o tipo de laço, o tipo do nó e a habilidade manual para executar os movimentos perfeitos até atingir a forma do laço requer paciência, talento, noções de física, arquitetura, design e exige uma dose de bom gosto para dar o tempero certo.

Desatar laços, no entanto, é um talento rudimentar, que dá em qualquer um. Pena. Porque se passa tanto tempo no processo de construção do laço ideal, desprende-se tanta energia, esforço, dedicação pessoal, intelectual e física, enquando do outro lado tem lá uma alma atormentada e desiludida que, covardemente, puxa as pontas e desata tudo.

lá se vão anos de preparo. Anos de admiração. Anos de carinho. Anos de um companheirismo dedicado a fazer daquela fita um bonito laço, bem acabado. Para torná-lo mais do que uma peça de adorno, mais que um enfeite. Para ajudá-lo a fazer dele, algo essencial. Embalando em uma bonita caixa, carregando pra lá e pra cá para ser bem valorizado. Assim, numa falta de cuidado, num gesto bem cuidado, puxam-se as pontas e ele se vai. Desfaz-se. Como se nunca houvesse existido.

Um laço, no fim, que desfaz-se a prejuízo de quem, afinal? Porque no processo de criação, planejamento e cuidados com o laço, quem o fez, aprendeu. Cresceu, como profissional da arte e como pessoa. Experimentou, evoluiu. E quem o desfez sem nem disfarçar, tremendo as mãos e os olhos como é praxe nas reações dos muito covardes ao se borrarem por não assumir os nós que uniram aquela fita, o que ganhou com isso?

Nada. Nem enquanto havia laço, nem com o ato de desmanchar o que era bonito. Porque se houvesse ganho algo, não teria sido covarde. Se houvesse acrescentado algo, não se apegaria a um arremedo de posição. Tão falsa quanto o laço que foi criado e construído, pela arte de quem acreditava na essência e na decência do ser humano.

É muito difícil criar laços. É muito fácil destruí-los. É muito fácil, depois de destruídos, esquecê-los.

Do que construí, não perco mais um instante de meu tempo me lembrando dele.

Comentários

  1. Querida, vc descreveu a minha vida. Tomara que tenha sido só a minha. Um beijão, Blues.

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