O OLHAR, A NÉVOA E O ENCONTRO


Segundo Jorge Luis Borges, todas as coisas no mundo conduzem a um encontro ou a um livro.  Para ambos, nem arrisco, simplesmente afirmo: é preciso olhar. É preciso precisar do olhar.

Olhar, simplesmente olhar, mostra caminho, luz, rumo, local, espaço. Olhar, olhar de verdade, olhar com verdade, indica outra coisa. Inclusive, tudo.

Tem quem olha e nunca vê. Tem quem simplesmente não vê, olhando ou não.
Tem quem nunca olha. E vê. Mesmo sem saber se de fato vê ou se imagina. É aí, é neste ponto, que o olhar conduz ao encontro (como a um livro, talvez). 

Sim, é possível descobrir outros olhos, sem nunca tê-los visto. Sem sequer o encontro do olhar. É possível (re)conhecer que os olhos são pontos discretos no rosto. Discretos, pois ali reinam a testa e as maçãs, que se destacam mais.  São discretos para que observem mais do que são observados.

Olhos que quando olham, o fazem direta e francamente. Sem meio olhar. Sem meias palavras, meias verdades, meios encontros. Sem meias escritas - nem meio livro. Sem meia vida. 

Olhos assim, só combinam se forem castanhos. De médio para claros. Olhos (e olhar) que escondem uma névoa ao fundo, que poucos observam. A maioria, intimidada pela franqueza, perde a chance de observar. Perde a chance de encontrar. E de ler.

Olhos contam muito. Esqueçam o brilho, isso é bobagem, típica de quem nunca olhou nos olhos de gente de verdade. Quem conta a história da vida daqueles olhos, densos, tensos, intensos, tesos, é a névoa.  Quem a carrega nos olhos não gosta de abrir a janela. Para quase ninguém. Nem precisa. Não são todos que encontram, na sombra e na névoa, o encontro. Menos ainda, muito menos ainda, que encontram a leitura, o livro. Deixa isso só para quem re(conhece).

É aí que entra o sorriso. Que ilumina o rosto, no lugar dos olhos.  Deixa os olhos para iluminar apenas o encontro. O livro. E a história. Quando tiverem que acontecer. 

Senão, deixa virar história. E um livro. Sem o encontro.

Eu olho.

Comentários

  1. Lindo!

    Souquemsou2

    ResponderEliminar
  2. Sou,
    Você sabe bem o que é isso. Desconfio...
    Beijoca.

    ResponderEliminar
  3. marcia190725/09/10, 16:30

    uau! muito meigo!
    e ainda bem q meus olhos são castanhos claros
    bejim

    ResponderEliminar
  4. E tem quem não veja graça em olhos castanhos, Marcinha...

    ResponderEliminar
  5. Nada mais belo e sincero que o sorriso do olhar.
    Lindo!!!
    Beijos,

    WELBI MAIA

    ResponderEliminar
  6. Decifre a névoa de um olhar, Welbi. É bonita, também. Pode-se até deixar o sorriso só para os lábios.
    Volte sempre!

    ResponderEliminar
  7. BSchopenhauer25/09/10, 17:37

    Eu "zóio"!

    ResponderEliminar
  8. Querida Rê

    Obrigado por mais este presente.

    O Olho no Olho nos proporciona penetrar e conhecer a essência do outro.
    Olhar-se no Espelho é penetrar e entender os sentimentos que correm em nossas entranhas.
    Olhar de Verdade é dividir o amor que circula em nossa alma.

    Bjs
    Marisa

    ResponderEliminar
  9. Amiga, obrigado.
    Belo texto, intenso, bem escrito, pungente.
    É verdade, a névoa tem o seu brilho próprio.
    Ela nos marca com um misto de incerteza, devaneio, solidão. Ela nos marca com seus mistérios, como a nos lembrar que certas fronteiras são incertas, fugidias.
    Mas com ela vem a vontade de buscar maior nitidez.
    É como se (re)ajustássemos nossas lentes para um novo padrão.
    Novas lentes, novos óculos, novos significados ... sim, um novo olhar.

    Gostei, beijos.

    Alberto Villar

    ResponderEliminar
  10. As pessoas são completas, Alberto. Não podemos gostar apenas de uma parte. Ninguém brilha o tempo inteiro. Há névoas. Você tem toda razão. Névoa tem brilho próprio. E nossos olhos precisam do exercício, do ajuste, para focar bem.

    Obrigada. Volte e comente sempre.

    ResponderEliminar
  11. Olá, Velvet.
    Interessante mensagem. Não resisti... Então, resolvi comentar.
    Por hora, atenho-me à névoa. Como disse, ela "tem brilho próprio". É verdade! E talvez por isso, quem com ela vê, não vê, não lê e não entende. Seja a si, seja a outros. Primeiro porque esse "filtro" é trapaceiro e nunca nos deixa ver o que de fato vemos - e vemos o que queremos ver ou supomos que vemos. E segundo porque, brilho clareia, ilumina e "rompe distorções", mas brilho demais cega. Tal àquele que nunca viu, com ou sem névoa.

    ResponderEliminar
  12. Oi Rafael,
    Inevitável que tenhamos, senão sempre - abrigada lá no fundo do olhar - em algum momento, um pouco de névoa. O segredo seria abrir de mão de olhar pela névoa, mas apenas, saber reconhecê-la, se a vermos, em outros olhos. E saber que aquela névoa faz parte da história que torna aquela pessoa, única.

    Obrigada pela visita. Volte e comente sempre.

    ResponderEliminar
  13. Muito bonito! E o fecho é maravilhoso. Parabéns, #mineirinha.

    ResponderEliminar
  14. Um fecho pé no chão, Carlos Alberto: com ou sem encontro, tudo é, no fim, apenas história...

    Obrigada pela visita. Volte e comente sempre.

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares