CENSURA EM FRÁGIL DEMOCRACIA



Gente, tem dias em que dá para se perceber como a nossa democracia ainda é frágil. Como ela ainda não é algo encravado na alma do brasileiro. E não não estou falando dos seguidores das trevas e suas boquinhas douradas. Estou falando do brasileiro comum. Daquele que se considera bem informado, bem escolarizado, cosmopolita e mesmo assim flerta, inconscientemente como o arbítrio...

E na segunda-feira, dia 10, tivemos um triste exemplo disto no Twitter. Pessoas que se dizem anti-petistas, democratas e "mudernas" pregando pela extinção do BBB e apoiando a censura que Paulo Coelho sofreu no Irã, onde suas obras acabam de serem proibidas. O argumento para tal era simplesmente: "não gosto do programa" ou "Paulo Coelho é uma porcaria". No rastro da discussão sobrou para o funk, "onde jovens se drogam" para os gays "que querem influenciar nossas crianças" e claro p/a tv Globo que "quer culpar o tea-party e a direita pelo atentado do Arizona"

Em todas as críticas vinham com variáveis do mesmo sentimento: censura. Em todas, a solução seria a proibição pelo governo. E de nada adiantava dizer que quando se apoia uma censura a um determinado autor, ou a um determinado programa ou tipo de música está se abrindo a porta para que outros autores, programas ou gêneros musicais também sejam proibidos. E mais, me acusavam de estar defendendo por que eu seria fã . Outros ainda diziam que como o Paulo Coelho não se manifestou sobre a ameaça de censura a Monteiro Lobato agora não poderia reclamar. Teve um que fez questão de dizer que era democrata, contra censura, mas não iria se engajar na defesa de Paulo Coelho.

As pessoas ainda não entenderam que democracia é o que garante o direito de expressão, a liberdade para todos. Que é algo que está acima de gosto individual. Que ninguém tem o direito de proibir outrem de ler, ouvir, ver e falar, apenas porque o gosto deste é diferente do outro. O que me apavora é saber que este tipo de raciocínio é o ambiente ideal para que o arbítrio se instale. Basta saber usar com destreza o vocabulário para angariar simpatia destas pessoas. Afinal, em nome da pátria, da moral, dos bons costumes e da boa cultura muitas ditaduras se instalaram. 

Quando pessoas que se vêem como democratas afirmam que não se incomodariam se livros do Paulo Coelho fossem destruídos, se o funk fosse proibido, se a Parada Gay não mais existisse e se o Jornal da Globo fosse censurado é sinal de que o arbítrio ainda tem um terreno fértil neste país. E que ainda temos um imenso caminho pela frente até que os valores democráticos sejam parte da alma brasileira.

Por Mirtes Guimarães, a jornalista carioca que nasceu em Minas Gerais.


(Leia também: PORTA-MALAS JÁ!)

Comentários

  1. Sem sombra de dúvida, qualquer censura é... censurável. Sou contra, de qualquer tipo. Qualquer tipo de patrulhamento. Cada qual sabe de seu cada qual.

    Minha censura é pessoal: minhas escolhas. Escolho ler ou não, assisitir ou não. Não é o estado, anão parasita, que deve escolher por mim.

    A censura aos livros de Paulo Coelho no Irã é lamentável. Assim como é lamentável que o governo da Idade das Trevas em suas versões I, II e III, seja amigo de primeira hora, companheiro de armas do ditador atômico Ahmadinejad a ponto de gritar contra a censura, mas jamais contra a condenação à morte de Sakineh.

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  2. As coisas são tão simples.... censura para mim, é controle remoto. E meu livre arbítrio.

    Não gostoo de BBB ( e é verdade, aho uma boçalidade) não entra na minha casa. Como, simples troco de canal.

    Não gosto de Paulo Coleho idem, mas muita gente gosta, e afinal ele tem milhões de leitores que o adoram. Eu não gato um centavo comprando um livro dele, mas respeito que acha quem elé é um guru.

    Não podesmos deixar que o Esatdo decida por nós. Somos donos da nossa vontade.

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  3. Há realmente estranhezas no ar. Democracia, hum, a democracia. Não verdade não sabemos ainda bem ao certo o que exatamente é. Querem democracia sem fronteiras, isso é possível? Querem austeridade com barreiras de sempre, isso é possível? São duas situações semelhantes em seus propósitos, as duas completamente equivocadas.
    O estado não pode interferir em nossas escolhas, mas convenhamos, há cada escolha que dá dó. A liberdade chegada ao exagero máximo do desequilíbrio, e é aí que ela acende os defensores da austeridade a qualquer preço.
    Nossos veículos de comunicação de massa estão cada vez mais navegando fora ainda dessas fronteiras, pegue-se a podridão das novelas e programas dominicais; pegue-se a consistente falta de verdade da política e seus conchavos não menos podres, e vai por aí...
    É preciso então o bom senso? Ou como dizem, ninguém deixa entrar nada em sua casa se a porta estiver fechada, pode até ser, mas experiente dizer isso para aquele eu nem porta tem em casa....
    Quer resolver a questão? Voltar ao começo de tudo, educar, educar e educar... primeiro devemos dar condições das pessoas aprenderem, depois sim saberão o que talvez nem nós saibamos direito, o que é Democracia ou o que é Censura. Paulos Coelhos, Redes Globos, Ditaduras, não são discutíveis, devem ser compreendidos se servem ou não, mas penso que individualmente.
    Pode-se não mudar o mundo, mas podemos mudar a nós mesmos, já é um começo.
    Você aí, aceita mudar?
    Estudar, estudar e... estudar
    @omeuprofessor

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  4. Maninha,concordo plenamente c/ vc!
    Como ainda é frágil a Democracia em nosso país!

    Há até gente que acha que Democracia é qdo a "ordem" dada pela "otoridade" coincide c/o seu gosto; se o Gov proibir algo que gosto, é Censura, mas se proibir um autor que não suporto, é um governo cuidadoso,zeloso,e por aí vai...

    São pessoas que ainda não compreendem o que seja uma Democracia de verdade!

    Mas,ainda chegaremos lá! Faltam debates,manifestações,educação,enfim,faltam informações em escola,na imprensa,em casa, p/ que a palavra Democracia seja amplamente exercida!

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  5. Sarcástico/ Abem da Verdade11/01/11, 21:29

    Concordo com tudo dito por você Marcia censura é censura e ponto.

    Agora quando é que o Governo vai fazer um Kit contra a Heterofobia?

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  6. Admitir a cencura é apenas admitir a propria mediocridade intelectual. Inconcebível no século 21.
    Mediocridade é hoje o prato do dia, e salvem raros espaços, o Brasileiro pende para a mediocridade total. Preguiça de pensar, preguiça de raciocinar.
    Fácil de manipular e nivelar TUDO POR BAIXO.
    Não delego em hipótese nenhuma, o direito de outra pessoa selecionar o que devo assistir, ler ou estudar.
    Não delego á outrem o que devo pensar ou dizer.
    Me recuso a colaborar com a imbecilização do povo brasileiro. Processo esse em franco desenvolvimento. Há 8 anos!
    Lamentável.

    Lunarscape

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  7. Enquanto não se compreender que a liberdade de expressão é um dos pilares da democracia, seremos isso que somos; "o país do futuro", desde que me entendo por gente.

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  8. Eu estava falando sobre algo semelhante agora há pouco no Twitter. Sobre pessoas "de bom gosto", jornalistas inclusive, ignorarem e até mesmo aplaudirem a censura que Datena e João Kleber, por exemplo, sofreram por contrariem ateístas e gayzistas, respectivamente. Ou que cristãos freqüentemente sofrem nas garras dos mesmos grupos que se fazem de "vítimas" para imporem sua censura.

    Um exemplo:

    Escritor evangélico processado por militantes gays terá todos os seus livros destruídos
    http://liberdadedeexpressao.multiply.com/reviews/item/351

    Mais tarde, pesquisando a tag #censura no Twitter, cheguei a este artigo, e concordo com basicamente tudo o que foi exposto.

    Sobre os gays, não acho que tenham de ser censurados, talvez nem mesmo em suas manifestações de propaganda e exibicionismo político, como as paradas gays. Mas daí a achar que eles têm o "direito" de extorquir dinheiro do contribuinte - via governos do PT, PSDB, DEM ou o que for - para fazer "paradas de orgulho" e "kit gay" para impor sua ideologia e adestrar (sim) crianças de 7 anos nas escolas, há uma longa distância.

    Fazendo uma comparação, já prevendo o xingamento de "homofóbico" que agora é moda: Uma coisa é a revista Playboy (que nem pornográfica é) ter sua publicação garantida, sem sofrer censura moralista ou feminista, por exemplo. Outra, bem diferente, seria se algum hipotético grupo de ONGs de "defesa dos direitos masculinos" decidisse que o Governo deve custeá-la e distribuí-la nas escolas e jardins de infância, para "educar" as crianças... A liberdade de expressão e de imprensa assegura o direito da Playboy existir, mas isso não significa que ela seja aconselhável para todas as faixas etárias, muito menos que ela seja "material didático" a ser bancado e promovido pelo Estado.

    Saudações.

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  9. marcia190712/01/11, 02:15

    sarca
    kit contra heterofobia é bom demais da conta.
    aliás, pq vc não escreve um texto sobre o tema? adoraria ler

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