FRUSTRAÇÕES CINEMATOGRÁFICAS


Uma seleção desacreditada, criticada pela imprensa que, mesmo ganhando não convence. Poucos acham que aquele país possa ter uma seleção com garra e técnica suficiente para vencer as grandes favoritas europeias. Porém, acreditando em si e em superstição, a equipe unida ganha a Copa.

Outra seleção, esta movida pelo amor ao futebol, é formada praticamente por jogadores de dois times que, por mais que tentem, não conseguem se entrosar. Para piorar, o time sofre uma derrota humilhante para os reservas de uma seleção europeia. A desorganização é tanta que o uniforme só é entregue quando o time chega no país em que irá disputar a Copa. Eles não ganham o campeonato, mas uma partida deles, justamente contra o time que os havia humilhados, entrou para a história.

Se você está querendo relacionar os fatos descritos acima com algum campeonato da seleção canarinho, desista. O primeiro parágrafo é sobre o roteiro do filme alemão Milagre em Berna que usa a campanha vitoriosa da seleção de 1954 para falar sobre o país dividido e abatido no pós-guerra.

Agora, a origem do segundo é mais exótica, se pensarmos que o futebol não é a maior paixão do povo de lá. Duelo de campeões é um filme norte americano de 2005. Nele, Gerard-ai-meus-sais-Buttler é o capitão da seleção norte-americana que, na Copa de 50, numa partida espetacular, vence a grande Inglaterra em Belo Horizonte. Uma curiosidade: o titulo original “The Game of their lives” é o mesmo de um documentário sobre a participação da seleção norte-coreana na copa de 1966.

Quando até a seleção-coreana tem um filme para chamar de seu, uma pergunta soa impiedosamente: por que o cinema brasileiro não tem no futebol uma fonte de enredos? Quantos filmes sobre ou tendo o basebol ou o futebol americano como pano de fundo você já viu? Comédia, romance, policial e até político, os esportes de massa da terra do Tio Sam fazem parte de sua cinematografia. Aqui, poucos usam a imagem de uma partida de futebol e o mais recente que me lembro é a comédia deliciosa O casamento de Romeu e Julieta, de 2005, que usa a rivalidade entre Palmeiras e Corinthians como obstáculo para a união de Luana Piovanni e Marco Ricca.

O cinema nacional, por questões ideológicas de um lado, ou pura preguiça do outro, adora um drama sobre a pobreza, a violência, a ditadura ou então as adaptações de autores populares. Não vemos nosso futebol, samba, frevo, nem muito menos nossa gente, nosso dia-a-dia retratados na grande tela. Aí os “entendidos” se espantam quando filmes simples, Nosso Lar, ou comédias sem maiores pretensões “políticas–sociológicas” como Se eu fosse Você e De pernas pro ar, se tornam sucessos.

Agora, de se envergonhar e se constranger, é ver um gigante americano (Fox) fazer a primeira animação em 3 D sobre temas 100% nacionais: uma ave em extinção (ararinha azul) e o Rio de Janeiro. E para o vexame completo dos nossos cineastas, o filme foi idéia e criação de um brasileiro que vive há anos nos Estados Unidos, Carlos Saldanha, e tem como responsável pela trilha sonora Sergio Mendes, outro conterrâneo lá radicado. Aliás, muitos experts em cinema nacional devem ter tido um troço ao ver a ararinha azul, ao lado do Rei Momo, “receber” as chaves da cidade do Rio de Janeiro.

A animação tem recebido críticas dos “entendidos” em cinema e, claro, do pessoal que só faz filme com incentivo fiscal. Agora, por que eles nunca tiveram esta idéia? Animal em extinção e a beleza do Rio não são novidades algumas para os brasileiros. Quando o cinema nacional irá se conscientizar de que não cabe a ele impor o que o público quer ver? É o consumidor soberano que decide. E enquanto o cinema nacional não recriar nas telas o dia-a-dia e as paixões brasileiras, terá sempre “fenômenos” de público e nunca uma grande platéia cativa. 

Mirtes Guimarães, a jornalista carioca que nasceu em Minas Gerais.

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Comentários

  1. Jorge Atakardiac05/03/11, 16:06

    Bem nos ovos Mirtes.

    É Big Brother em toda a economia. Raras empresas não devem algo aos bancos oficiais. BNDES, BB e Caixa. Tudo com juros camaradas claro. Um subcapitalismo em que os melhores não são selecionados pelo mercado,mas pelos lobistas do regime.

    Teu exemplo ilustra bem isso, não é o público que seleciona os cineastas, mas um burocrata a cata de amigos do regime.

    Ta faltando o choque de capitalismo que o Covas defendeu nos idos de 89.

    Menos estado, bem menos.

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  2. sandra sallee07/03/11, 14:25

    sou suspeita para criticas .
    Mas a iniciativa privada no Brasil acaba indo buscar recursos no governo , recursos dos contribuintes que ja sao taxados/explorados sem piedade .
    Vira bola-de-neve .
    Excelente post Mirtes .
    Vc entende bem do assunto ...
    Beijim ...

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