CAI A NOITE
Aqui a ação simplifica-se
Derrubei a paisagem inexplicável da mentira
Derrubei os gestos sem luz e os dias impotentes
Lancei por terra os propósitos lidos e ouvidos
Ponho-me a gritar
Todos falavam demasiado baixo
falavam e escreviam
Demasiado baixo
Fiz retroceder os limites do grito
A ação simplifica-se
Porque eu arrebato à morte essa visão da vida
Que lhe destinava um lugar perante mim
Com um grito
Tantas coisas desapareceram
Que nunca mais voltará a desaparecer
Nada do que merece viver
Estou perfeitamente seguro agora que o verão
Canta debaixo das portas frias
Sob armaduras opostas
Ardem no meu coração as estações
As estações dos homens
os seus astros
Trêmulos de tão semelhantes serem
E o meu grito nu sobe um degrau
Da escadaria imensa da alegria
E esse fogo nu que me pesa
Torna a minha força suave e dura
Eis aqui a amadurecer um fruto
Ardendo de frio orvalhado de suor
Eis aqui o lugar generoso
Onde só dormem os que sonham
O tempo está bom
gritemos com mais força
Para que os sonhadores durmam melhor
Envoltos em palavras
Que põem o bom tempo nos meus olhos
Estou seguro de que a todo o momento
Filha e avó dos meus amores
Da minha esperança
A felicidade jorra do meu grito
Para a mais alta busca
Um grito de que o meu seja o eco.
(Paul Eluard)
Pois na semana passada eu estava com vontade de sair de carro por aí, sem destino, ouvindo rock ou punk bem alto e gritando junto.
ResponderEliminarNão fui e a vontade só aumenta...
Abçs!
Querida Regina.
ResponderEliminarAcredite ter em mim um eterno (enquanto dure) admirador do Veneno Veludo.
Além da qualidade dos textos, você é uma moça de grande personalidade. Também nunca esqueço que foi neste espaço a minha estréia.
Todo dia continuo provando um pouco da dose que imuniza contra tudo que está errado neste país.
Parabéns:)
Eu preciso que me olhes nos olhos
ResponderEliminare decifres a angústia
que te atrai e me tortura.
Eu preciso te dizer certas coisas
que se calaram em mim quando te vi
na manhã imprevista e indecisa,
mas dizer estas coisas custa ânsias
incontroláveis.
Eu preciso de vez que te chegues a mim
e não me digas bom-dia
nem me cobres os dias e noites
da nossa ausência.
Eu preciso de alguém
que converse comigo
no amanhecer.
(Luiz de Aquino, poeta goiano)