CAI A NOITE
Clamando de suspiros, cercado de lágrimas,
Aqui venho em busca da Primavera,
Para nos meus olhos e meu ouvidos
Receber desses bálsamos que tudo curam.
Mas, oh, traidor de mim, comigo trago
A aranha do amor que tudo transubstancia,
Podendo converter maná em fel:
Para que este lugar seja de todo considerado
Um verdadeiro paraíso, trouxe-lhe a serpente.
Aqui, com frascos de cristal, venham os amantes
Tomar as minhas lágrimas, que são vinho de amor.
E, em casa, testai as lágrimas da vossa amada:
São falsas todas as que não tenham o sabor das minhas.
Infeliz! os corações não brilham nos olhos,
E pensamentos de mulher não se julgam pelas lágrimas,
Como nem por sua sombra o que ela leva vestido.
Oh, sexo perverso, onde nenhuma é verdadeira senão aquela
Que é mesmo verdadeira, porque a sua verdade me mata.
(John Donne)
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