CAI A NOITE
É só na solidão que a alma se revela,
Como uma flor noturna as pétalas abrindo,
A uma luz, que é talvez o clarão duma estrela,
Talvez o olhar de Deus, de astro em astro caindo...
E dessa luz, a flor sem forma, há pouco obscura,
Recebe o seu quinhão de graça e de pureza,
Como das mãos do artista, animando a escultura,
O mármore recebe a sua alma — a Beleza.
Se sofrer é pensar, na paz do isolamento,
Como dum cálix cheio o líquido extravasa,
A Dor, que a Alma empolgou, transborda em
[pensamento,
E a pouco e pouco extingue o fogo em que se
[abrasa.
Como a montanha de ouro, a Alma, em seu
[mistério,
À superfície nunca o seu teor revela;
Só depois de sondado e fundido o minério
Se conhece a riqueza acumulada nela.
Corações que a existência em tumulto arrebata!
Esse ouro só se extrai do minério candente,
No silêncio, na paz, na quietação abstrata,
Das estrelas do céu sob o olhar indulgente...
Antonio Feijó
"É na solidão que a alma se revela...."
ResponderEliminarLindo poema!
"Only the Lonely Knows" , magnificamente cantada por Frank Sinatra , foi o que me veio `a mente ao ler este também magnífico poema.
Parabéns,sempre