CAI A NOITE

No princípio era a estrela de três pontas
Um largo sorriso de luz no rosto vazio;
Um ramo de osso em meio às raízes flutuantes,
A susbstância bipartida que foi a medula do primeiro sol;
E, algarismos ardentes na giratória esfera do espaço,
O céu e o inferno quando rodopiavam misturados.

No princípio era a assinatura desbotada,
Trissilábica e estelar como um sorriso;
E vieram depois as impressões na água,
O selo da face cunhada sobre a lua;
O sangue que tingiu a cruz de Cristo e o graal
Tingiu a primeira nuvem e deixou um signo.

No princípio era o verbo, o verbo
Que das sólidas matrizes da luz
Abstraiu todas as letras do vazio;
E das nebulosas origens do sopro vital
Fluiu o verbo, traduzindo para o coração
Os primeiros caracteres do nascimento e da morte.

No princípio era o cérebro secreto,
O cérebro enclausurado e soldado ao pensamento
Antes que o breu se bifurcasse em direção a um sol;
Antes que as veias fossem agitadas em seu crivo,
O original da costela do amor.

Dylan Thomas

(Ilustração: Atena inserindo alma no homem)



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