11/9 A MATÉRIA QUE NÃO QUERIA TER ESCRITO

Eu nem precisei abrir os olhos para saber que aquela manhã não seria como outra qualquer. O som da televisão vindo da sala já era o aviso de que algo muito, mais muito grave tinha acontecido. Afinal, o costume da casa era só ligar a TV na hora do Jornal Nacional. Mas foram os resmungos de “Meu Deus!” “Que coisa!” que me fizeram pular da cama rapidamente. Ao chegar à sala, a primeira coisa que vi foi uma imagem congelada do que parecia ser uma torre fumegante sobre um azul fantástico de tão lindo. Começava ali um dos dias mais longos e chocantes, profissional e pessoal, da minha vida. 

Demorou alguns momentos para eu entender o que estava se passando. E os repórteres pareciam tão perdidos quanto eu. Eles só informavam que um avião “havia batido” contra as torres World Trade Center. De repente um grito: outro avião acabara de “bater” na segunda torre e ninguém em emissora alguma sabia informar a razão. E as torres gêmeas se desmanchando como castelo de cartas faziam que, mais do que nunca, as perguntas, do lead de qualquer matéria, tivessem que ser respondidas. O onde e o quando estavam claro, mas o cerne da questão era “o quê, como e por quê?

E com isto na cabeça, engoli o café-da- manhã e corri (literalmente) para o Dia. E não foi só eu, mas também vários coleguinhas que também entrariam mais tarde estavam lá. A redação tinha se transformada numa grande editoria Internacional. O jornal, como os demais do Rio, estava fazendo uma edição especial que deveria estar nas ruas às 14h, ou seja, estávamos apurando e escrevendo em tempo real. As informações iam chegando e a gente ia montando o texto. E o que mais estarrecia mesmo era o material fotográfico. De repente se descobria que aqueles pontos flutuando no espaço não eram de equipamento algum. Eram sim pessoas. E tudo, tevê, foto, informação, declarações de pessoas se tornavam um mosaico tão tragicamente surreal que a gente nem parava para pensar. Se o fizéssemos não teríamos como continuar...

O nervosismo, o choque, a emoção só faziam com que corresse mais adrenalina na veia. E isto fez com que as lembranças daquele dia não sigam uma cronologia. Os socos sucessivos na barriga e as lágrimas que tinham que ser seguradas são bem mais fortes do que as matérias que apurei. As torres desmoronando, as pessoas caindo, a “onda” de fumaça engolindo as ruas nova-iorquinas são imagens que jamais sairão de minha mente. Como também não sairá a revolta e indignação que senti ao ver palestinos de todas as idades comemorando a tragédia. 

Ah, e o que dizer daquela cena de Bush sentado em um baquinho com um livro de história infantil na mão e com um olhar incrédulo? O ex-presidente foi muito criticado, mas a incredibilidade dele refletia a de todos. A daqueles que assistiam atônitos das ruas de Nova Iorque o transcorrer da tragédia. A dos bombeiros tentando concluir por onde começariam. A dos policiais lutando para criar um pouco de ordem em meio ao caos. E também no sentimento de todo mundo em não querer acreditar em todo aquele horror que via pela televisão. E nós, tão acostumados a fazer perguntas e procurar respostas sentimos toda a nossa impotência. Naquele momento nós éramos como todos, apenas testemunhas oculares da História.

A edição especial saiu na hora certa e foi muito bem feita. Mas ela não significou o fim da apuração ou das emoções. Ainda tínhamos a edição do dia seguinte. Nela viria o depoimento do americano que estava no Rio e assistiu, aturdido, o seu país ser atacado, da mãe que desesperada procurava notícias dos filhos que passavam férias em Nova Iorque, de pessoas que lá viviam, enfim, a personalização de uma tragédia que, intuíamos não era só daquela cidade ou daquele país. 

No final da noite, início da madrugada, entre copos de cervejas e de refrigerantes, a gente finalmente pode botar para fora toda a angústia, estresse e tristeza daquele dia. Trocando informações e desabafos nós podíamos sentir que aquilo iria marcar época. Só não se sabia que mais do que isto, o 11 de setembro se tornaria um divisor de águas. Só uma coisa ficou clara desde a hora que acordei: que naquele dia eu seria obrigada a escrever sobre algo que jamais deveria ter acontecido.

Mirtes Guimarães, a jornalista mineiroca que traduz o cotidiano como poucos.

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O 11/9 DE CADA UM por Lunarscape

Comentários

  1. eu quando vi .. o primeiro avião já tinha batido na primeira torre... e os repórteres.. anunciavam que o piloto tinha jogado o avião contra a torre.. eu não acreditei nisso pq nenhum piloto oficial jogaria avião em algum lugar ... ele é treinado pra tirar do sufoco custe o que custar... Logo depois outro... bateu na segunda torre.. fazendo um desvio forte na rota.. foi quando passaram a noticiar que era um sequestro e terroristas pilotavam os aviões..
    mas foi terrível.. Retorista é tudo demente... ninguém pode confiar em terrorista..

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  2. Foi, talvez, a manhã mais triste de minha vida. A agonia de saber que milhares de pessoas estavam presas e condenadas a morrer foi terrível.

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  3. http://news.yahoo.com/firefighter-tells-story-behind-iconic-september-11-moment-with-george-bush.html

    Essa matéria é fantástica.

    Lunarscape

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