CAI A NOITE


Quem pode deter-te se és como um largo rio
Bravo, profundo, turbulento, rebelde rio
Famélico, sedento de curvas a conquistar
Poder imenso - conheces a tua natureza
De navegar sereno em relevo acidentado
Quem há de impedir-te se cavalgas algures - em mim
Solene, erguido, altivo, atrevido cavalgar
Conquista feroz - conheces a tua justiça
Das causas que sem cessar pelejas
Quem há de reter-te se és como um romper das veias
Súbito, intenso, vibrante, agudo corte
Quente jorro de sangue a reviver
Incandescente transfusão - conheces a tua força
Do acerto Divino que fez-te
O homem exato

Peito cheio de orgulho - nato
A atravessar florestas, negras, brancas, escuras, atlânticas
Calma em meio ao dia sesta sob o sol espontânea raiz
Terras férteis em sabedoria que dá frutos em copas vivas
Avanço de ousadias que o fluxo do universo cadencia
Quaisquer que sejam os ventos da verdade - tua eterna presença
Quaisquer que sejam os mares da liberdade - tua eterna crença
Dilatas aquecido apenas pelo pensamento - de pé
Da minha presença que tu chamas e acolhes
Em beijos ao luar ou às sombras de nuvens
Em meio às raízes ou noturnas geadas
Envoltos, tomados, possuídos, adonados os meus lábios
(Onde mais te lançarias, com os teus, senão aos meus?)
Espírito em corpo sagrado - não importa quem não veja -
Te lanças sem segredo em procissão de entusiasmo
Sobre meus apetites - profundas paixões no cais do desejo
Quem há de impedir-te, tu, que o Divino acerto fez
Fusão completa dentro de mim -

Inteiro correto perfeito encaixe - O homem exato
Deste beijo.

Comentários

  1. Delícia! Poema com farta carne, versos carnudos.

    Amo o trabalho com adjetivos e com sinônimos. Veja, a poesia fica rica, significativa, chega mesmo a transbordar, enche o verso - gosto disso!

    Se este teu poema fosse uma maçã, minha vontade seria de morder em dentadas bem dadas. Parabéns!

    Abraços sempre afetuosos.

    Fábio.

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