TORNANDO MAIS FÁCIL A AUTO-DEFINIÇÃO SEXUAL



Em pleno carnaval, assistindo ao Saia-Justa, descobri que, na Austrália já há opção de se declarar genderless (algo como sem gênero definido) em documentos oficiais, inclusive passaporte. O interessante é que há apenas três opções: homem, mulher, genderless. Esta modernidade, de alguma maneira reafirma o princípio de que o que está entre o feminino e masculino pode ser qualquer coisa menos os gêneros originais. Ou seja, não é uma coisa nem outra e sim uma terceira. Isto posto, o adjetivo genderless pode ser libertador. Vale à penal ressaltar que, até onde eu sei, há 10 definições de gênero (quem souber de mais algum, por favor, me diga). E é neste contexto que o genderless perde sua conotação inicial de andrógino para abranger todas as denominações. Ou seja, não rotula. Qualquer um pode se identificar com o que quiser sem ter que dar maiores explicações. E não há necessidade de, de tempos em tempos, estar criando novas denominações.

O genderless talvez venha colocar um fim em situações constrangedoras, como a que envolveu um homem-hétero que estava praticando cross-dressing (se vestir de mulher) e por isto achou-se no direito de usar o banheiro feminino de um restaurante. Uma mulher que estava com uma menina não gostou, reclamou ao gerente. Este passou a reclamação ao homem que acabou denunciando o caso e fazendo com que a casa fosse multada. Ao se oficializar a definição, o genderless terá direito de ser o que é em todos os momentos da vida, inclusive nos banheiros públicos ou privados, pois terá o dele.

Vale lembrar que no Rio, algumas escolas de samba e ambientes mais moderninhos já têm um terceiro banheiro. Nos Estados Unidos algumas firmas mais “antenadas” possuem banheiros enormes que servem para todos, independente do sexo. Claro que são feitos de maneira a preservar a intimidade do usuário. Parece que se precisou de muito tempo para que o bom-senso prevalecesse de maneira que o direito de todos, homem, mulher e genderless fosse respeitado.

Agora uma coisa interessante é que por mais que se critique a sociedade dita conservadora, é ela que serve para parâmetro para qualquer novidade em termos de relacionamento. Qualquer homem, mulher ou genderless sonha com uma união com o ser que ama. Qualquer homem, mulher ou genderless quer um canto para chamar de seu, de preferência tendo alguém para dividi-lo. Muitos genderless, assim como muitos homens e mulheres, anseiam por um casamento religioso. E, também como muitos homens e muitas mulheres, muitos genderless sonham em criar filhos. Ou seja, na hora da grande decisão, todos se lembram do valor do papai-mamãe (a intenção é sem duplo sentido, mas...)

Sim, o tempo passa a lusitana roda, mas é a tão criticada, escorraçada e antiquada vida burguesa o sonho de 11 entre 10 ocidentais. Por que no fundo, no fundo todos sabem que são os valores burgueses de respeito à liberdade, à propriedade, ao conhecimento e, sobretudo a defesa da democracia que criam seres livres com grande possibilidade de realizarem seus sonhos. E no fim do dia, quando se coloca a cabeça no travesseiro, o que todo o homem, mulher ou genderless quer é apenas ser feliz. Agora é bom lembrar que todos, homens, mulheres e genderless também têm seus deveres. E um dos mais importantes é o de respeitar o direito do outro.

Mirtes Guimarães é a @marcia1907, a jornalista mireiroca que traduz o cotidiano para o blog.

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Comentários

  1. Tenho algumas definições bem definidas, pleonasticamente dizendo. Para mim - para mim, porque minhas regras valem apenas para mim - o negócio é menino com menina. O primeiro tem o brinquedinho de armar, a segunda tem o brinquedinho de abrir, e quando vão brincar juntinhos, os brinquedinhos são como Lego: encaixe perfeitinho. Porém, a liberdade individual que eu prezo tanto diz que cada um deva ser o que desejar ser. Eu gosto assim, também. Não quer ser gênero algum? Pois que seja feita a sua vontade.

    O outro porém é que, pelo mesmo valor da liberdade individual, não gosto do estabelecimento obrigatório de conduta/comportamento de quem faz opções (qualquer que seja) como regra para o padrão de toda a sociedade. Coletivo demais para meu gosto. Cada qual com seu cada qual. E cada qual respeitando o cada qual do outro. Inclusive o genderless, que é o mais livre dos gêneros...

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  2. Marco Aurélio27/02/12, 15:01

    Concordo totalmente com a Velvet Poison. No entanto, eu acho que no documento deveria constar o "sexo", como acontece no Brasil, pois o sexo é imutável (nunca vi uma cirurgia de mudança de sexo fabricar um útero fértil) e isso é muito importante numa sociedade que se pretende duradoura. Além do mais, essas construções semânticas de "gênero" em oposição a "sexo" servem apenas à militância homossexual que quer relativizar todos os conceitos estabelecidos pela natureza de forma a obter "direitos" que naturalmente não têm, como o de homens usarem o banheiro feminino. Assim como os indivíduos têm o direito de querer encaixar dois brinquedinhos de armar ou de abrir, a sociedade também tem o direito de definir o que é aceitável como norma no sentido de contribuir para a saúde social e material da dita sociedade. Uma sociedade não pode impor coercivamente uma conduta sexual sobre os indivíduos que a integram, mas grupos de indivíduos desta sociedade, bem definidos como minorias, não podem impor seus conceitos desvairados de comportamento sobre a sociedade.

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  3. Podem me chamar de vulgar e grosseiro, mas, pra mim, homem é quem tem pinto e mulher é quem tem xoxota. O resto que se vire. Genderless é que nem sem-terra.

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  4. Mirtes, compreendi o todo, mas vou considerar algumas partes.

    1) O cross-dressing historicamente sempre foi tratado de duas maneiras: por razões pessoais do praticante e por razões de confrontação. Neste segundo caso, mulheres que se vestiram com roupas ditas masculinas ou homens que adotaram vestuários considerados femininos tinham razões ideológicas e políticas por trás. No primeiro caso (brincadeiras, festas, dentro de casa, etc), alguns psicanalistas consideram um problema psicológico apenas quando afeta o convívio social do praticante.

    2) Pensando nas duas situações acima, e pegando o exemplo que você citou, não creio que a mãe da menina não "gostou". Acho bem mais grave do que isso, porque, como você bem chamou a atenção, era um hetero vestido de mulher num banheiro em que uma criança do sexo feminino se encontrava. Em outras palavras, era um homem vestido de mulher num banheiro de mulher. Uma mãe que vê um homem numa situação dessa pressupõe, no mínimo, duas coisas: estuprador ou pedófilo! E creio, sim, que a lei foi impingida erroneamente contra o dono do restaurante! Restaurante não é patrimônio público, mas privado! Eu tenho o direito de receber quem eu quero no meu restaurante e o freguês de procurar outro restaurante que o receba, se não gostar. E a mãe o direito legítimo de defender sua filha de um cabra macho vestido de mulher no banheiro de mulheres. Não vejo constrangimento, vejo crime! Mas é uma pena que São Paulo já não pense assim. Tratou a vítima como criminosa e o criminoso como vítima de constrangimento!

    3) Agora, seguindo o pensamento da Regina, o problema do terceiro banheiro será a imposição por lei em ambientes privados. Já há lei que obriga os estabelecimentos privados de criarem uma área só para fumantes, acho uma imposição, não concordo. Na Argentina, em Buenos Aires, já há lei que proibe que o dono do restaurante coloque sobre as mesas os saleiros, ridículo! Certamente, irão surgir donos de restaurante que por razões pessoais não vão querer um terceiro banheiro. O que vai acontecer? O governo vai resolver a questão criando uma lei que obrigue os estabelecimentos de ter um banheiro. Não concordo. Aí, já não é confrontação à sociedade conservadora, mas imposição e invasão. Por isso não concordo.

    Abraços sempre afetuosos.

    Fábio.

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  5. PARABENS MIRTES

    SEU FINAL FOI EXPLENDOROSO!!!!
    TODOS QUEREM SER FELIZES E RESPEITADOS!!!

    Bjs

    Marisa Cruz

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  6. Amiga querirda, só vc poderia ter escrito texto que até poderia ser dramático com tanto bom humor. Tomei uma decisão, na próxima encarnação, venho genderless, acho que será mais fácil encontrar alguém para dormir de conchinha. Por enquanto, nessa, não dá.
    Parabéns! Bjs, Blue

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