CAI A NOITE
[ANDRÓMACA]
Vem Heitor despedir-se de mim para sempre,
Quando Aquiles, com as mãos temíveis,
Prepara o horrendo sacrifício a Pátroclo?
Quem, de futuro, ensinará o teu filho
A atirar as lanças e a honrar os deuses,
Quando te tragar o Orco escuro?
[HEITOR]
Esposa querida, poupa as tuas lágrimas,
A minha ânsia febril vai para o campo de batalha,
Estes braços protegem Pérgamo,
Lutando pelo altar sagrado dos deuses,
Cairei e, salvador da terra pátria,
Descerei ao rio estigío.
[ANDRÓMACA]
Não mais escutarei o fragor das tuas armas,
Ociosa está a tua espada no átrio,
Arruina-se a estirpe heróica do grande Príamo.
Vais para onde não mais surgem os dias,
O Cocito chora, através dos desertos,
O teu amor termina no Lete.
[HEITOR]
Toda a minha ânsia, todo o meu pensamento
Quero afundar na torrente tranquila do Lete,
Mas não o meu amor.
Escuta! o selvagem já está em fúria nas muralhas,
Afivela-me a espada, deixa-te de lágrimas,
Não morre no Lete o amor de Heitor.
A despedida de Heitor in Illiada, de Homero.
Ilustração: Les adieux d'Hector et d'Andromaque, de Vien Joseph-Marie, 1716-1809
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