SÃO PAULO, SERRA, HADDAD E OS TEMPOS VERBAIS


Passado, presente e futuro, num dia só, nas urnas. Trata-se disso cada domingo de vestir-se para votar. Neste domingo, 28, por mais interesse que o desenho eleitoral final provoque, indiscutível é que todos os olhos de todos os cidadãos que se antenam ao tema voltam-se com avidez para o resultado do escrutínio em São Paulo, a maior metrópole do país, no maior estado na nação.

Trata-se do futuro decidido no presente pelo passado, e isso é bem simples. O próximo prefeito comandará o orçamento dessa mega cidade inclusive durante a realização da Copa do Mundo, como se não fosse pouco ser São Paulo o que já representa. De um lado, José Serra, do outro, Fernando Haddad, que os institutos pesquiseiros apontam como o provável vencedor.

Bom de refletir no escuro, sem a luz do resultado decisivo das urnas, é que pode-se dizer o que quiser e ao errar, voltar atrás. Daí que não falarei de pesquisas, nem sensações, nem tampouco de minhas certezas - e no quê cada uma delas se baliza. Para falar do provável resultado da eleição na cidade mais importante do país, tenho mais juízo que vontade. A razão, força que sempre me dominou, me induz a falar exatamente o que eu penso. Já minha intuição, força presente que nunca desprezo, me aconselha, e sábia como sempre é quem me modera a não dizer uma palavra do que penso sobre Serra x Haddad. Ou a vitória de Haddad. Ou, sobre a derrota de José Serra. 

As pessoas realmente ficariam surpresas se soubessem as coisas que minhas emoções mandam calar, pois posso dar-me ao luxo de emprestar mais respeito à intuição do que o necessário. Mas falar não muda nada. O quadro que se apresenta, para nós observadores de longa data - e larga experiência - no mercado de capitais eleitorais já se descortinava com clareza há tempos. Mas daí a opção de comentar o resultado que não há, antes que aconteça: não tenho bola de cristal, portanto, tudo pode ainda acontecer para me desmentir. Bem ao gosto da modernidade, a metáfora perfeita para minhas reflexões do que está ou pode vir a acontecer, é o futebol. Senão, vejamos:

É mais ou menos como um time que está muito mal no campeonato. Tome-se o meu, Flamengo, como exemplo, pois é bem real a sua situação. Da estrutura da Gávea até a direção técnica; dos jogadores até a diretoria, uma droga só, uma bagunça só, que se traduz em alto e claro péssimo desempenho durante os jogos, dentro das traçadas linhas brancas que delimitam o gramado. Os torcedores conscientes estão a ver, sofrem, brigam, seguem torcendo mas plenamente sabedores que a situação vai rumo à tragédia. Alertam a diretoria, cobram, mas no fundo, todos os que realmente podem e devem realizar algo dão um solene foda-se para a realidade. Aí, na reta final do campeonato, milagrosamente, um ou mais jogadores do time conseguem alguma reação, que ninguém sabe explicar de onde veio mas que evita a tal tragédia anunciada (como um rebaixamento à Segunda Divisão, por exemplo). 

Pois bem, tal reação dá à torcida a falsa sensação de alívio, e que a partir de agora tudo será diferente. Mascara, infelizmente, todos os reais e graves problemas que continuarão os mesmos, com tendência a piorar. E assim, no Brasileirão do ano que vem, o torcedor-militante segura a onda, lotando as arquibancadas com sua raiva, sonho, ira, revolta, gritos, cantos de guerra, lágrimas. Paixão. Esperança. 

Antes de saber do resultado que já me mostra qual será, sofro vivendo esse paradoxo intelectual* supracitado: meu juízo e minha intuição me dizem a mesma coisa, em sentidos opostos, na razão direta de que nada, entretanto, pode ser pior do que o PT no poder. Que, para tirar o PT do poder, o povo de São Paulo precisa apanhar com o PT nele, pois isso trará reflexo direto para o resto do país. Para tirar o poder do PT em 2014, o bom-mocismo tende a desaparecer. O coitadismo marqueteiro que o PT com Lula implantou para alçar à tal posição, e a proibição de apontar o dedo para o Intocável Senhor de Garanhuns e por consequência em sua sucessora Dilma, tende a ficar em 2010. Ou se é apoio explícito deles e está-se a favor da reeleição de dona presidente ou, para ter a mínima chance - mínima, mas muito mínima mesmo - de se obter uma vitória contra ela (ou ainda que se vislumbre vencer quem ela determinar como sucessor para 2018), será preciso partir para a campanha (do jeito que deveria ser há tempos) virulenta: demarcar muito bem que é oposição e assim se portar: enfim, mocinhos contra bandidos, maniqueísta que só!

Eleição é assim, que nem futebol mesmo. A vitória de José Serra e do PSDB em São Paulo, apesar de ser a minha opção preferencial  e das óbvias implicações das vantagens práticas para a cidade e aquele que mais importa, o cidadão paulistano, tem esse componente: a parte boa serviria para mascarar, mais uma vez, o que vem ocorrendo desde 2002, todas as desgraças nascidas, refletidas e encerradas na falta de oposição de verdade ao Regime implantado nestepaiz que o PT erigiu no lugar do Brasil.  Com Haddad prefeito de direito (nunca o será de fato), o eleitor paulistano, após dois anos de um nada profundo no sentido administrativo e uma Copa do Mundo para ajudar a destruir os cofres da capital mais importante do Brasil, será o primeiro a botar fogo na necessidade de uma nova realidade político-eleitoral.

Em meio à incerteza (prática, porque pessoalmente eu não a tenho) do resultado que ainda há de vir na noite desse domingo e o paradoxo intelectual que me afeta, deixo a pergunta, já que não sou, jamais serei, pessoa de respostas: a tomada hostil do poder em São Paulo pelo PT, sob a fachada da administração Haddad será o quê, para o Brasil, realmente?

Sem São Paulo
O meu dono é a solidão
Diga "sim"
Que eu digo "não"


*A aplicação do conceito e a própria expressão "paradoxo intelectual" referente à condição político-eleitoral de São Paulo, foi-me dada por BSchopenhauer na noite de sábado, 27, enquanto trocávamos nossas longas e profícuas discussões sobre conjunturas. É uma angústia dele que vem de encontro, de forma idêntica, à minha. Usei-a sem pudor nesse post.

Comentários

  1. Parabéns Regina, sinto a mesma angústia que seu texto expressa.Não entendo e temo o que pressinto,mas prefiro estar enganada, quero meu país livre,democrático, no rumo certo. Resta esperar...continuar em nossa impertinência e cobrança diárias. Bjkas
    Celia

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    1. Célia, nada é mais pertinente do que nossa impertinência. Jocas!

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  2. Eu assino embaixo do que você escreveu, mas, confesso com um desejo obsceno e perverso de que muita gente e muitos grupos paulistas sofram o pão que o diabo amassou por conta da deslealdade que tiveram para com a cidade de São Paulo. Alguns deles por sinal já estão literalmente apanhando hoje.

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    1. Está subscrito, Marcinha. Aliás, de implícito para explícito, pois não!

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  3. Marco Aurélio28/10/12, 19:11

    Inverno no meu coração... Frio e garoa na escuridão...
    Que droga, minha São Paulo! Até tu?!
    Faço minhas as palavras da marcia1907.

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  4. São Paulo minha cidade
    Minha cidade natal
    Elegeu Fernando Haddad
    O candidato do mal

    Agora resignado
    Não mais irei à capital
    Nem que seja amarrado
    Cometerei esse erro fatal

    @BobWebBB

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