PELA AMÉRICA LATINA: VIVER AS RUAS
O blog abre, hoje, uma série de artigos sobre o que há por aí na vida, na política, nas ruas da latinoamérica, a partir da visão do amigo Antônio Figueiredo, em incursão por países deste lado de baixo do Equador. Por este primeiro texto, dá para perceber que vem muita informação boa pela frente sobre os vizinhos, e também sobre o quê eles pensam deste nosso país tupiniquim.
LATINOAMERICANIDAD
Por Antonio Figueiredo
Viagem turística
para muitos é visitar museus, lugares históricos, cidades e praias, além de
hospedar-se, comer e beber em lugares mais requintados (visto que o câmbio nos
favorece), fazer as tradicionais compras de artesanato e, evidentemente, refazer o
estoque daquele "scotch” ou perfumes franceses no “duty free” do aeroporto de
chegada. Para mim,
diferentemente, turismo sempre significou o “viver as ruas”, onde desfila constante
a cultura, ouve-se a música da língua, degusta-se a culinária “criolla” nas
barraquinhas de cada esquina e se interage política e socialmente com o “nativo”.
Para completar o cenário é essencial a
visita ao Mercado Central de cada país, onde a flora e a fauna comestíveis e
decorativas estão expostas para encher-nos os olhos com a generosidade da
terra.
Para esta viagem desvirginal
sul americana eu me exigi um outro preparativo precedente de modo a me fazer
passar por um “insuspeito brasileiro” nesse périplo por Argentina, Chile, Peru
e Colômbia através do domínio da língua comum. A isso me credenciou minha
atividade profissional nos últimos 15 anos em que o espanhol tornou-se minha
segunda língua.
Assim armado, me
vesti do decantado espírito de “latinidad sudamericana”, que enlaça todos que
falam as línguas ibéricas, ainda que camuflando propositalmente a minha
“lusitanidade”. Acreditava ao
embarcar no Brasil que o conceito de latinidade fosse um valor comum
compartilhado por todos os povos da América do Sul, transcendente ao idioma,
oriundo de tradições, usos e costumes trazidos pelos colonizadores, que vieram
somar-se aos dos nativos. Qual foi minha
decepção ao verificar que isso é pura falácia dos interessados em estabelecer
um padrão ideológico comum para a América do Sul como por razões históricas, o
que não passa de mistificação política.
Ao dissecar esta tese pela análise
histórica, constatei que a Espanha no início da colonização do Novo Mundo era
um agrupamento de “reinos inimigos” ainda “muito mal unificados e pacificados”
por Fernando e Isabel de Castela e Aragon não se constituindo em uma cultura
homogênea, prevalecendo a marca do “colonizador local” que impunha a marca
fosse ele de Navarra, Leon, Catalunha, Galícia, País Basco ou Andaluzia.
Hernan Cortez e
Francisco Pizarro, que conquistaram respectivamente a América Central e México
e o Peru eram da Extremadura, no Reino de Leon na fronteira com Portugal. Foi
dessa região o maior contingente de “aventureiros” espanhóis a buscar o Novo
Mundo pela sua condição de “deserdados espanhóis”. Diego Almagro conquistador
do Peru e Chile era do Reino de Castela. Já do lado das
etnias sul americanas a Cordilheira dos Andes marcou fronteiras muito bem
definidas de ocupação e o decantado “conceito de Pachamama” é localizado
exclusivamente na Bolívia e Peru cultuado pelos nativos de influência incaica.
Sobrou ainda a constatação periférica de que Paraguai e Uruguai sempre tiveram
suas etnias e colonização mais ligadas ao Brasil e a Argentina com seu
“continente pampeiro” sempre seguiu livre de influências. Da parte dos nativos
aconteceu o mesmo, pois com exceção de Peru, Equador e Bolívia, que receberam
forte influência dos Incas e Colômbia e Venezuela, com influência dos índios
Caribe e por isso ainda conservam laços culturais muito estreitos, Chile e
Argentina, ainda que vizinhos, tem uma cordilheira a separá-los.
Desta maneira
pode-se dividir a América do Sul em dois blocos: o Atlântico, (Brasil,
Argentina, Uruguai e Paraguai) e o Andino/Pacífico, (Chile, Bolívia, Peru,
Equador, Colômbia e Venezuela), que apresentam características econômicas,
étnicas e culturais totalmente diversas. Em todos esses
países meus interlocutores preferenciais eram os motoristas de táxi, garçons e
gente das mais baixas camadas sociais, visto que não me interessava o “ponto de
vista” da classe média, pois com os poucos que conversei em cada país tem
exatamente as mesmas preocupações futuras, que nós “classe média brasileira”. A
classe média, essa sim forma uma “nacionalidade idêntica e única” em toda
América do Sul e por isso conclui que é o único sentimento verdadeiro que une a
todos é a “clasemedianidad”.
Já as camadas mais
pobres pouco se importam com esses conceitos, pois a lei da sobrevivência os
obriga a pensar e cuidar exclusivamente dos aspectos práticos da vida
determinados pela limitação a que estão submetidos. O que vi é que tanto no
Chile, quanto no Peru e Colômbia existe pobreza, mas não miséria aparente nas
ruas. Não vi desabilitados e infância pedintes e tampouco flanelinhas, mas no
Chile assustou-me a quantidade de “senhoras idosas” esmolando tanto perto do
Palácio de La Moneda, quanto na Plaza de Armas.
O que pensam e como
vêem o Brasil? Bem, o Brasil é um “país distante e próspero”... não faz parte da
América Latina e por isso não merece compartilhar a “latinoamericanidad”.
Nada a comentar, só agradecer os ensinamentos; OBRIGADO!
ResponderEliminarEste final foi Cróeo, como diz o cacique.Se somos assim considerados, porque insistem ( os governantes) em unidade? Falácia!
ResponderEliminarMto bom seu texto,amigo! Foi uma aula!
ResponderEliminarDeve ter sido uma viagem deliciosa! Assim como vc,gosto mto de ouvir e observar o povão mesmo;esses são mto mais interessantes e francos! Aprende-se com eles,e não com a tal "classe mérdia" que parece que no mundo todo corre atrás das mesmas coisas!Dão téééédio! rsrsrs
Espero que o próximo texto venha bem breve,certo?
Aceite meu abraço carinhoso!
Zinha
Oba, adorei a introdução! Até porque bate muito com o que eu intuía. Estou curiosa em saber se o que penso sobre como Chile e Argentina nos vêem e vêem demais países.
ResponderEliminarEntonces trate de não demorar muito para escrever, ok?
Muito obrigado a todos os leitores e especial aos comentaristas. A generosidade dos amigos é a melhor coisa do mundo, ao mesmo tempo que nos obriga a fazert o melhor.
ResponderEliminarBelo exemplo de turismo cultral. Já enjoei de tantas descrições babonas e cucarachas das novas iórquis e paris da vida. Umas voltas por aqui mesmo ensinam muito. Continuamos de costas para a América do Sul. Para onde vamos Chumbo?
ResponderEliminarabç