AS PREMISSAS DO PARLAMENTO E O ELEITOR "TIPO ASSIM"


O mandato representativo (Poder Legislativo) dispõe de premissas que dão a ele um quê de previsibilidade. Uma dessas premissas consiste no objetivo do trabalho do representante político: a reeleição, ou a eleição para outros cargos. Trata-se da continuidade de sua vida política. Toda e qualquer atividade parlamentar é dirigida pelas premissas em geral e pelo seu objetivo em particular. Para atingir esse seu objetivo, a atividade representativa dá-se através de:

1.Publicidade: aparecer de maneira positiva, favorável (normalmente evitando questões polêmicas, ou em alguns casos criando polêmicas), é a forma de ter visibilidade para garantir a reeleição. Aqui entram as suas equipes de comunicação, de marketing e todos os meios necessários para garantir a visibilidade.

2.Busca de crédito: é necessário passar para a população que o parlamentar tem credibilidade. Forma-se entre os eleitores a ideia de que essa pessoa que quer o seu voto é imprescindível para a sua vida, para os objetivos que o eleitor ou um grupo de eleitores almeja. Realizada alguma ação nesse sentido, seja através de apoios municipalistas, de discursos, de apresentação de projetos de lei e outras atividades dentro da Casa Legislativa e fora dela, o parlamentar tenta provar à opinião pública que sem a intervenção dele um fato/ação não teria acontecido. É a fatura, onde o eleito recebe o crédito por algo que tenha promovido. 

Chega-se a um ponto importante: a busca pelo reconhecimento. A credibilidade pressupõe que a ação precisa ser propagandeada COM A VERDADE. Por algum tempo, uma estratégia arriscada de propagandear uma inverdade pode funcionar. No caso do Executivo sempre funciona, mas no Legislativo, isso tem limite e hoje em dia, esse tempo vai diminuindo consideravelmente. Uma parcela do eleitorado está um pouco mais atenta, e os meios de comunicação - com destaque maior para a internet - ajudam nisso. 

Vamos trazer essa questão para a realidade tupiniquim. Vê-se credibilidade no Parlamento Brasileiro nos últimos tempos? O Palácio do Planalto tem, garantida, maioria folgada no Congresso para instituir qualquer investida, inclusive contra a Constituição Federal. O Congresso Nacional, como formatado pelas urnas, está absolutamente na gaveta do Poder que deveria, via de regra, incomodar. 

Identifica-se no Legislativo uma magna caterva de servos, sem força sequer para infames negociatas diretas. Servem a alguns outros, esses sim, os espertalhões, seja da própria Casa ou sob a égide dos partidos, que são tão poucos que se pode facilmente usar os dedos do Lula para contá-los. Pós-negociatas pelos que realmente detém o poder, o Congresso Nacional referenda o Executivo a desgovernar conforme queira, obra e graça de um estado de natureza totalitarista, que subjuga aliados, desqualifica a oposição, e inutiliza a liberdade de imprensa, que, na prática, é apenas mais um de seus prestadores de serviço. 

Têm os atuais parlamentares a consciência da responsabilidade que é a tomada de posição, tanto para defender os interesses dos eleitores, individualmente ou em grupo, das bancadas estaduais e partidárias? E ainda ter que lidar com o rolo compressor já comprovadamente em ação do governo Dilma Rousseff e tudo o que mais os próximos, no mínimo, 6 anos de PT significam, em sua própria e maléfica essência? Não vejo um Congresso formado por representantes assim, porque isso não é para fracos. Nem bobos. E fracos e bobos (espertos) é o que temos para o momento.

Findo o período do mandato, o parlamentar sempre tem que temer que, se existe juízo no eleitorado, quem não se enquadrou, não recebe a paga de seu objetivo: sua nova reeleição. Daqui cerca de dois anos, em 2014, o eleitorado terá amadurecido? Fica a pergunta, que minha visão peculiarmente cínica do mundo me responde (mas não a todos) bem. 

Os eleitores mais velhos, alguns me parecem cansados, outros simplesmente não se importam. Os mais novos que chegam à idade de usar título de eleitor votarão num Congresso, assim como sempre foi, que seja a sua cara. Observando a juventude dourada dessas nossas terras morenas, perco todas as esperanças. Aproximadamente 5 mil anos de civilização, 2.300 anos depois da Biblioteca de Alexandria, mais de 100 anos da aviação, computadores ultra-rápidos e finos como papel, internet em smartphones que todos carregam no bolso, capazes de acessar tantas riquezas intelectuais da humanidade, e a julgar pelos jovens desse nosso tempo, o único progresso atingido desde a descoberta da roda foi a transformação da expressão "tipo assim" em uma palavra de ordem unipresente, que faz as vezes de verbo, substantivo, artigo e serve até mesmo como uma frase completa, se necessário. Teremos um Parlamento "tipo assim". Véi! 

Comentários

  1. Um Parlamento que não é bem um Parlamento, mas é assim "tipo Parlamento", né? Parabéns pelo texto (pela análise). Maravilha!

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