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O que mais chamou minha atenção na recente viagem pela América do Sul foi o equilíbrio e a estabilidade das principais Economias e suas moedas frente ao Dólar Americano. Hoje temos: 2,00 Reais, 2,60 Nuevos Soles (Peru), 475,00 Pesos Chilenos e 1.820,00 Pesos Colombianos. Nesse contexto temos que Brasil e Peru já cortaram recentemente três zeros de suas moedas e Chile e Colômbia ainda não e que caso venham a fazê-lo, teríamos cotações variando entre: 0,475 (Chile), 1,82 (Colômbia), 2,00 (Brasil) e 2,60 (Peru). As exceções, infelizmente, ficam por conta do Peso Argentino e do Bolívar Venezuelano e digo infelizmente, porque são dois países nos quais se pratica um “câmbio negro” fortíssimo à luz do dia destemidamente e isso é um indicador de sérios problemas econômicos.

Dentro da visão de Blocos Econômicos, hoje em dia tão essencial à sobrevivência dos países frente à Globalização, isso se torna um fator de aniquilamento para o sempre pretendido, derrapante e jamais consolidado MERCOSUL, visto que Argentina, a terceira e Venezuela, a quarta Economias da América do Sul não fornecem a suficiente densidade econômica para o “bloco”, o que certamente enfraquece a economia maior e mais forte do Brasil, além do que a Colômbia, a segunda maior economia do subcontinente não faz parte do bloco, atraída que foi para a zona de influência da ALCA e dos países do sudeste asiático, (Chile e Peru seguem o mesmo caminho), pois é razoável que tal equilíbrio e estabilidade, além das taxas consistentes e consecutivas de crescimento nos últimos anos atraia uma massa muito grande de capital especulativo, (Hot Money),  que quer sua parte nos lucros desse desenvolvimento de países que, hoje,  tem que se defender isoladamente.

A América do Sul hoje possui uma “vantagem competitiva” invejável e muito pouco valorizada, representada por suas reservas ambientais, (florestas e água), minerais (metálicos, hidrocarbonetos e carvão/gás mineral) e áreas agricultáveis. A reserva ambiental é representada principalmente pela Bacia da Floresta Amazônica, (50% das florestas nativas mundiais), que engloba oito países. Brasil -60%, Peru - 13% e em menores percentuais Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Suriname e Guiana Francesa cobrindo uma área de 7 milhões de km² e correspondendo a 20% das reservas mundiais de água, isso sem contar os muitos aquíferos (Brasil, Paraguai e Argentina) e glaciares de Argentina e Chile. As reservas de petróleo são as maiores das já medidas no Mundo, (Venezuela, incluídas as reservas de petróleo pesado do Orenoco), Pré-Sal do Brasil, cujas reservas não foram ainda medidas, além de Argentina, Peru e Colômbia; Chile e Peru detém cerca de 30% das reservas mundiais de cobre; a Bolívia 33% das reservas mundiais de estanho; o Brasil detém as maiores reservas mundiais de Manganês e junto com Venezuela grandes reservas de ferro e bauxita. Para a criação de um polo siderúrgico poderoso a América do Sul e o Hemisfério Sul em geral, tem uma carência enorme de carvão mineral, mas em contraposição tem a segunda maior reserva mundial de gás de xisto (Brasil e Argentina) e novas opções tecnológicas poderiam viabilizá-lo.

Faço aqui um breve extrato do trabalho do diplomata Samuel Pinheiro Guimarães - A América do Sul em 2022 de Outubro de 2010: As características da América do Sul – grande riqueza mineral e energética; grandes extensões de terras aráveis não utilizadas; população cada vez mais urbana em processo de estabilização demográfica; regimes políticos estáveis; inexistência e distância geográfica de áreas de conflitos intensos – tenderão a condicionar o papel da América do Sul em um cenário político mundial em que a disputa pelo acesso a recursos naturais e a alimentos será fundamental. Em 2022, quer se queira ou não, devido a razões econômicas, políticas e sociais, o Brasil se encontrará inserido na América do Sul de forma muito mais intensa, complexa e profunda, tanto política quanto economicamente, do que se encontra hoje.

1. A América do Sul é a nossa região, onde nos encontramos e de onde jamais sairemos. O futuro do Brasil depende da América do Sul e o seu futuro depende do Brasil.

2. A América do Sul é um arquipélago de sociedades e economias separadas pela distância, por obstáculos geográficos e pela herança das políticas coloniais que as isolavam cada uma das demais e que as vinculavam exclusivamente a suas metrópoles, Madri e Lisboa. A histórica e geográfica dificuldade de contatos permanece até hoje, entre os sistemas de transportes, de energia e de comunicações dos distintos países, já de si pouco integrados nacionalmente, levou a um fluxo, que ainda é reduzido, de comércio, de investimentos, de pessoas e de cultura. A dificuldade de contatos entre os países contribuiu, juntamente com as características de seu desenvolvimento e de sua inserção na economia mundial, para fazer da América do Sul esse arquipélago de sociedades subdesenvolvidas, com elevadíssima concentração de renda, com índices sociais deploráveis, muitas delas primário-exportadoras, tecnologicamente dependentes e militarmente fracas.

3. A América do Sul é um continente rico ao extremo em recursos naturais, tanto em seu solo como em seu subsolo, distribuídos de forma desigual entre os países que a integram. Países de enorme capacidade agrícola ao lado de países importadores de alimentos. Países riquíssimos em energia ao lado de países sufocados pela sua falta. Países de razoável industrialização e outros voltados para a agricultura e a mineração. Países de reduzida dimensão territorial ao lado de outros de grande extensão.

4. As reservas de minérios, as fontes de energia, as terras aráveis, a água, a biodiversidade, constituem um enorme potencial, aproveitado de forma incompleta e muitas vezes predatória. Não foi e não está ele organizado para atender estruturas produtivas avançadas e grandes mercados internos, mas, sim para suprir a demanda de mercados tradicionais, que se originaram e se formaram desde os tempos do comércio colonial e que, hoje, assumem, por vezes, formas quase neocoloniais. Mesmo naqueles países mais avançados da América do Sul a economia se encontra organizada, em grande parte, para a produção e a exportação de produtos minerais e agrícolas, às vezes processados, e de semimanufaturados, como se constata pela presença majoritária de produtos primários ou de baixa tecnologia na pauta de exportações de cada país.

5. Os 400 milhões de sul-americanos se encontram predominantemente em cidades, em metrópoles grandes e médias, em cujas periferias grassam a pobreza, a mortalidade infantil, a violência, as drogas, a desintegração familiar, a subnutrição, o desemprego e o subemprego, as doenças e o analfabetismo. São essas populações, excluídas e pobres, que correspondem à enorme maioria da população de cada país, que fazem da América do Sul o continente mais desigual do planeta. A pobreza, o desemprego, os baixos salários e a violência provocam a emigração de grandes contingentes de sul-americanos que enfrentam dificuldades extremas em busca de oportunidades nos Estados Unidos e na Europa. Em contraposição às metrópoles e a suas periferias, se encontram os grandes vazios demográficos da Amazônia, dos Andes e da Patagônia onde populações dispersas têm difícil e escasso acesso a bens públicos de toda ordem, tais como hospitais, escolas, água, esgotos, luz e transporte.

Temos menos de 10 anos para que se complete o prazo mencionado por Samuel Pinheiro e ainda estamos muito distantes do principio dessa integração desejada. Será que o Interoceânico Aconcágua, as rodovias desde o Brasil e Bolívia até Chile e Peru e as da Região Amazônica ligando ao Pacífico e à Venezuela são o principio acelerador de tudo isso ¿ Ou seremos eternas colônias emergentes e pior ainda colônias globalizadas.

Nos últimos tempos muito se fala da preservação da Amazônia como Patrimônio da Humanidade e Reserva de Oxigênio e de que deva ser assim mantida para Salvar o Planeta. Estou de pleno acordo. Afinal a riqueza mundial especulativa, que representa a maior parte dos fluxos financeiros mundiais atuais tem que ter alguma serventia e valia. Que se crie um Imposto Mundial para a Preservação da Raça Humana, sem esquecer, contudo de preservar a saúde financeira e os povos dos países detentores dessas boias salva mundo, hoje as maiores vítimas do Hot Money internacional, pois como prega Milton Friedman, "não existe almoço grátis". 

Ao contrário do que doutrinava Karl Marx, há muitas revoluções econômicas mundiais atrás, a atual economia mundial globalizada tem muito mais complexidade e variáveis que a relação capital e trabalho e a atual crise econômica mundial vem confirmar e enfatizar, que não haverá salvação unilateral e nem porta de saída exclusiva sem a cooperação entre desenvolvidos, em desenvolvimento e pobres deserdados pela natureza, pois não muito longe no futuro e gradativa e crescentemente a desgraça de um será a desgraça de todos e desta forma somente a  efetiva participação nos ônus e bônus dessa cada vez mais aldeia global através de alianças geopolíticas competitivas fará com que todas as vozes sem exceção sejam ouvidas. Que venga la UNIRSUR.

Antônio Figueiredo é o @ToniFigo1945, mas para os velhos de guerra das trincheiras virtuais, ainda é o Chumbo Grosso, agora, um especialista em América Latina.

Comentários

  1. Sou a descrença em pessoa quando se trata de integrar e unir e reunir povos. Trazendo para nossa realidade, houvesse, hoje, uma integração da América Latina, regrediríamos à maior distância possível da civilização ocidental. Estaríamos mais para a URSS. E para 1917, claro.

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  2. Descrentes ou não, ou a humanidade (não sociedades regionais) entende que vamos todos para o mesmo buraco ou fim será mais próximo. Embora eu me pergunte: fim do q?
    Mais um texto excelente! Parabens

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  3. Eu não consigo acreditar em um mercado comum sul americano.Não temos maturidade democrática e até mesmo emocional para tanto. Há muito ressentimento e muita baixa politicagem no continente.

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