A CRISE: QUEM SABE "RECONHECE" A HORA



Quem é nascido antes dos Anos 50 do século passado, sabe muito bem o que é “viver em crise”, pois na verdade a República dos Estados Unidos do Brasil, desde o seu nascimento em 1889, viveu mais tempo sob “estado de sítio” do que sob “instituições democraticamente constituídas”. Talvez porque, como sempre, as “mudanças” ocorridas no País sempre foram determinadas pela vontade das “oligarquias políticas” e não por uma “manifestação da vontade popular” e isto a rigor considera a própria instauração da República, quando um Imperador amado e respeitado por seu povo, foi apeado do Poder por um “marechal de pijama”, porta voz de uma “maioria republicana” inexistente. A leitura dos episódios precedentes a esse acontecimento diz bem do “sentimento nacional” de então. 

À República Velha (1889-1930), que após mínimos 41 anos de existência, já expunha os vícios do peso do poderio econômico como fator hegemônico regionalista, (a República do Café com Leite), sobreveio a República Nova, nascida de um Golpe Militar da Revolução de 1930, que levou ao poder Getúlio Vargas, o primeiro Pai dos Pobres do Brasil e que em 1937 ditatorialmente manteve-se no Poder através do Golpe do Estado Novo, talvez um dos períodos mais negros da nossa história em termos de repressão, violência e falta de garantias de liberdade política e de expressão. Em 1945 um “golpe branco” apeou do poder Getúlio Vargas, fruto das “exigências democráticas” dos militares brasileiros recém-saídos da Campanha da Itália, enamorados da pujança da nação norte-americana reerguida em menos de 10 anos após o “crack da Bolsa” e também do poderio alemão retomado em menos de 15 anos após a assinatura do Tratado de Versalhes.

Contudo, quero falar principalmente do “tempo das minhas recordações” até nossos dias e que se principia no Governo Vargas (1951-1956), que reabriu a “caixa de Pandora” e as feridas antigas e mal curadas de seus períodos de governo anteriores e que o levou ao suicídio em 1954 e que mesmo assim manteve-se turbulento institucionalmente até seu final melancólico sob o Governo Café Filho/ Carlos Luz. O Governo Juscelino, (1956-1961) nasceu e manteve-se todo ele sob a permanente ameaça de golpes militares mal sucedidos, ameaças de carestia, movimentos grevistas e “empastelamento” de jornais. A renúncia de Jânio Quadros em 1961, após 9 meses de Governo e a difícil condução de João Goulart à Presidência após a tentativa de um “golpe parlamentarista”, (Tancredo Neves, figura obrigatória em todos os Governos desde 1945) e que ao final culminaram com a Revolução de 1964. Não se aponta ao longo desses 75 anos de “regime republicano” um só ano de absoluta liberdade, estabilidade institucional, paz e desenvolvimento social. Essa, em resumo, é toda a nossa “experiência democrática” pré-revolucionária.

Decorridos hoje outros quase 50 anos de “regime republicano presidencialista” e excetuados os 21 anos de Ditadura Militar, não tivemos “golpes”, mas tampouco avanços realmente solidificados em termos de “instituições livres e democráticas”, se por instituições absolutamente livres e democráticas entendermos as que funcionem “independentemente” do Poder Central e que sejam estritamente regidas pela “força da lei”, garantindo a paz e a ordem social, principalmente no tratamento da “igualdade perante a lei constitucional”. Quantos nomes neste tempo de “elevado espírito público” sobressaíram-se nos Três Poderes por terem sido pilares da construção da Democracia e das Liberdades Individuais e que tenham liderado e promovido as “profundas mudanças” políticas, econômicas e sociais demandadas pelo Povo Brasileiro?

No Brasil temos sempre confundido “elevado espírito público” com “popularidade” e a consequência disso é que todos os Executivos e Legislativos Brasileiros das últimas décadas “aguardam julgamento” para fazer jus à perfilar na HISTÓRIA e assim chegamos ao ponto em que o Judiciário é o “poder defensor e última instância” das nossas esperanças. Contudo, o próprio Poder Judiciário, desde suas mais baixas instâncias, é incompetente para garantir a “Justiça Social Igualitária”, principalmente aos “mais despossuídos” e à “baixa classe média”. A rigor, tem sido a conscientização política popular crescente, mas ainda pouco atuante, que tem imposto freios aos desvarios totalitários, que por vezes ainda aflora na “elite política”, que nada aprendeu nestes últimos 125 anos e que hoje substituiu o “Governo do Café com Leite” pelo “Governo da Fome Moderada” mediante a inclusão social através de “Bolsa da Miséria Familiar”. Um País que em 20 anos tem como sua grande conquista um Programa de Inclusão, que se tornou uma “Política de Estado”, não saiu do lugar, pois veio simplesmente a “corrigir” injustiças do passado.

Estamos novamente às vésperas de Eleições Presidenciais e vivemos novamente o debate entre os arautos do apocalipse da perda da conquista da “pouca fome garantida” contra os demônios promotores das “mudanças essenciais” constitucionais, judiciais, políticas, tributárias e sociais, (aqui incluída a força de trabalho), que entre os nomes em oposição que se apresentam, não se identificam. Todos se propõem a “fazer mais do mesmo” e quem souber interpretar o que o povo deseja em um exato momento e souber traduzi-lo inteligivelmente aos seus ouvidos sempre será o eleito, ainda que contra todas as “probabilidades” dos “donos políticos” do Brasil.

Assim finalizo, reiniciando. Quem é nascido no Brasil, sabe muito bem o que é “viver em crise”, pois na verdade a República Federativa do Brasil, desde o seu nascimento em 1889, viveu mais tempo sob “crises de identidade” do que sob “instituições democrática e estritamente constituídas”. Isso porque, como sempre, as “mudanças” ocorridas no País sempre foram determinadas pelas conveniências das “oligarquias políticas vigentes” e não pela “manifestação consciente da vontade popular”. O Brasil continua o mesmo, porque seu Povo, assim o deseja ou o permite.

Antônio Figueiredo, o @ToniFigo1945, é economista e agora, o tradutor da conjuntura econômica da América Latina - e do mundo - para o blog.

Nota do blog: os artigos do Toni Figo sempre são publicados às segundas-feiras. 
Por responsabilidade exclusiva da dona do blog, não foi possível postá-lo ontem, 29. 

Comentários

  1. CARO TONI


    UM PAIS TAO PORTENTOSO EM TERRITORIO E TAO DESPROVIDO DE GOVERNANTES INTERESSADOS EM INVESTIR NA EDUCACAO, ONDE OS RESULTADOS SAO:: POVO ALIENADO E IRRESPONSAVEL NA HORA DO VOTO E TORNANDO-O TAO PERMISSIVO QUANTO OS PSEUDO POLITICOS QUE SE ESPALHAM POR TODO ESTE BRASIL.
    DECADAS SE SE PASSARAM E A CONTA ESTA CADA VEZ MAIS CARA.

    Marisa Cruz

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  2. Vou entender assim: o mundo não vai acabar pra nós, tá bom?! A vontade é mudar para Singapura, mas vou me controlar.
    Parabéns pela aula de história.
    Bjs

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  3. Nada do que foi feito ou se tentou fazer por aqui, foi concluído, ficamos sempre no analgésico e pior, genérico.
    Nossas dores, não são maiores nem menores que as de outros povos, só são mal curadas.
    Temos hoje, no mundo, uma China, super populosa e ultra moderna, apesar de alguns contestarem o custo a que alcançaram isso e não tiro-lhes a razão.
    Não acho justo uma geração usufruir de benesses geradas por uma anterior, sacrificada e quase sempre não reconhecida.
    Cada dia com sua agonia, é assim que vejo como caminhamos; aos tropeços, com dores de cabeças, mas nos analgisando.

    Ninguém chega a esse mundo sorrindo.

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  4. O cerne de tudo: "Todos se propõem a “fazer mais do mesmo” e quem souber interpretar o que o povo deseja em um exato momento e souber traduzi-lo inteligivelmente aos seus ouvidos sempre será o eleito, ainda que contra todas as “probabilidades” dos “donos políticos” do Brasil"

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  5. Prezado Toni, a coisa toda é cultural, lamentavelmente somos um povo onde a maioria quer se dar bem, quer se acomodar em um cargo que lhe dê dinheiro e poder e de preferência nunca mais sair dele. Aristóteles determinou que "o fim último do estado é a virtude, isto é, a formação moral dos cidadãos", o brasileiro cultua um Estado Patrimonialista e quando tem um cargo ou poder usa de forma mesquinha, não há generosidade e nem instinto de união, não existe um projeto de Nação, é sempre um projeto de poder, levaremos seculos para chegar um Estado de direito. Infelizmente o brasileiro é aquele tipo de ser humano que tira o cachorro da casa dele e leva pra cagar na porta do vizinho, como dizia o saudoso deputado mineiro Wilson Trópia, no Brasil a crise é de caráter. desculpe se fui muito acido. rsrsrs

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  6. Também acho que a questão central é que o povo brasileiro não está nem aí para nada. A grande maioria se contenta com o básico. Se achar que a vida está boa, aplaude e apoia qualquer demagogo, qualquer ditadura.

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