CAI A NOITE


Deve dar breve cuidado, 
Motivar grande atenção, 
A um Deus a criação, 
Depois de te haver criado. 
Deve de ser refinado 
O engenho que ele mostrar 
Desde o ponto em que criar; 
Cuide nisto a omnipotência, 
Porque, ao ver a sua essência, 
A Natureza pasmou. 

Ao mesmo Céu não é dado 
(Bem que tanto poder goza) 
Criar coisa tão formosa 
Depois de te haver criado. 
Naquele instante dourado, 
Em que teus dotes formou, 
Apenas os completou, 
Arengando-lhe o Destino, 
Em um êxtase divino 
A Natureza pasmou. 

O teu rosto é adornado 
Dos prodígios da beleza; 
Foi um deus a Natureza 
Depois de te haver criado. 
Pôs em teu rosto adoçado 
O que nunca o Céu formou; 
Ela a Jove envergonhou 
Nesse deleitoso espanto, 
E de ter subido a tanto 
A Natureza pasmou. 

Manuel Maria Barbosa du Bocage
(Ilustra o post tela de Frederick Richard Pickersgil, Orsino and Viola)

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