BLUES, UMA HISTÓRIA DIFERENTE - PARTE I


(Lunarscape, o colaborador deste blog que é músico mas se tornou Doc por alguma inconsistência do destino, nos brinda, a partir de hoje, com uma série sobre Blues. Todos os dias, uma aula. Quem não conhece ou não tem o hábito de ouvir, aproveite. É um convite a se apaixonar.)




"O Blues é o dialogo entre o homem e a sua guitarra!"
(Robert Johnson – Love In Vain - Cover famoso dos Rolling Stones)


Blues, o gênero de musica é uma confluência de diversas raízes culturais que parece que nasceu nos campos de algodão no sul dos EUA lá pelos 1880. As raízes culturais que compõem o blues, acadêmicamente falando vão desde a cultura negra, trazida pelos escravos negros, elementos indígenas locais, elementos religiosos católicos e pitadas de cultura popular.

Dois depoimentos de amigos definindo o Blues:

-O Blues é quando você sai de casa de manhã para trabalhar, se despede da esposa, pega o carro e dois quarteirões depois lembra que esqueceu a carteira. Você volta e quando chega na garagem vê o carro do seu primo estacionado ali!

-Tô chateada, coloco uma minisaia, meia calça e dou uma desfiada na calça. Entro num bar as 2 da manhã só para ouvir: “Cara, ai, essa daí não, é “barata” demais”!

O que seria então o Blues em termos estruturais? Sem entrar demais em tecnicalidades, já entrando, há de se entender um pouco de acordes e escalas musicais. Uma escala pentatônica é uma escala cartesianamente pré-estabelecida por compor um campo harmônico. Lembram do Dó, Ré, Mi, Fá Sol, Lá e Si? Cinco notas em sequência compõem a escala pentatônica, nada mais que isso. As escalas valem para todas as notas de Dó á Si. e as escalas pentatônicas são Maiores ou Menores. 

Complicado né?, nem tanto. No blues são utilizadas, na maioria das vezes, a escala pentatônica menor onde a 4.a nota é “diminuída” (um passinho para trás), compondo 6 notas tocadas. Essa nota chama-se “Blue Note” e é “suingado” para dentro da escala. Pronto, agora temos o nosso “som” diferenciado.

Vamos agora aos instrumentos: fácil entender que os ex-escravos do sul dos EUA viviam na penúria, sem recursos para o sustento próprio. O jeito era de inventar instrumentos. Assim copiavam o visual do violão usando uma caixa de charutos (de madeira) descartado pelo patrão e tripa de animal como cordas. Mais fácil era arrumar instrumentos percussivos.

E foi desse jeito que puderam se expressar culturalmente. Os cânticos acompanhados dos sons desses instrumentos improvisados eram cantados nos campos de algodão e dizem que eram usados até como meio de mandar recados para outros campos vizinhos, tipo aviso sobre parentes doentes, falecimentos, amores impossíveis e  pedidos de remédios ou outro tipo de ajuda. Essa era a forma Godspell. Cânticos repetidos nas igrejas no domingo longe dos brancos! Junto à esses gêneros haviam o “Jump Up” “Spirituals” e “Jubilee”.

Falo aqui das tendências que levaram ao Blues, portanto de um período de quase 100 anos antes dos 1880’s. Vamos recordar também que os Confederados haviam perdido a guerra civil e o sul (Alabama, Mississippi, Louisiânia e Geórgia) estava literalmente em petição de miséria. Assim o “lamento” era mais comum do que “festa”.

Naquele período se ouvia Jazz e musica popular em geral alem de country. O Jazz sofria desdobramentos para o Boggie Woogie e Ragtime. Sendo caros os instrumentos poucos poderiam seguir o Jazz ou comprar pianos para Boggie Woogie ou Ragtime. Assim o Blues ficou confinado aos pobres e sem divulgação maior. (Continua...)

Maude Lux Lewis – Boogie Woogie

Comentários

  1. Jorge Lima @atakardiac16/12/10, 13:34

    Dá-lhe Lunarscape. Blues vem da alma em dor. Blues é o ser humano virado ao avesso do desamor.

    Esse blog tá na ponta da cultura e da história. Tô dentro

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  2. Uma verdadeira aula para leigos e cria de paixão para os iniciados. Sugiro que @lunarscape entre em contato com @humbertoamorim que é músico, um aficcionado por jazz e presidente do clube do jazz local e meu amigo.
    Já dei RT prá ele no link do Veneno.

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  3. Amigos, da forma com que a Velvet formatou o texto, acredito que os aficcionados do Blues poderão contar com pelo menos uns 4-5 capitulos.
    Ajuricaba, te agradeço a indicação. O Humberto será addicionado.

    Abraços

    Lunar

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