O CIRCO ARMADO
Algumas perguntas que não calam enquanto assistimos ao Reality Show da Globo “A Cidade Contra O Crime”, ou qualquer outro nome que queiram dar às transmissões 'Live da Tomada de Favelas no Rio de Janeiro.'
Primeiro, alguns dados importantes: o Rio de Janeiro tem mais de 1000 favelas. O trafico de drogas movimenta perto de meio milhão de reais por dia. Isso entre drogas e venda de armas pesadas entre as facções. Os valores são evidentemente estimados, mas considerando dados disponíveis na web, apurei faturamento diário de 3 “bocas” com mais de R$ 30 mil. Isso em apenas 3 bocas, e estima-se que são mais de 400 bocas pelo Rio de Janeiro afora.
“Caraca meu, é muito dinheiro, isso tudo é meu?” quem não lembra dessa frase? Parece que o Ministério Publico esqueceu.
Bem, em primeiro lugar, como é que se chegou a esse ponto? Digo, as mais de 400 bocas de fumo, e um faturamento “absurdo” daqueles.
Em marqueting chamamos isso de aumento de demanda, simples assim. Ou o Carioca está se drogando cada vez mais. Ou o carioca tem cada vez mais drogados. Pelo que observamos, as duas são corretas. Daí a necessidade de mais pontos de vendas, e assim a “Firma” aumenta o plantel, contrata mais “funcionários” e traz mais drogas para vender mais. Pagam em dia, contratam mais que o comercio e a industria legalizada, porém os benefícios de trabalhar ali não deve ser dos melhores. Vida curta.
Se eu, com uma pequena pesquisa pelo Google levanto esses dados, porque cargas d’água a policia e o MP não tomam providências? A parada não é “Ilícito Penal?”
Vamos às perguntas que não calam:
1- Quem financia essa operação toda? E quem são os responsáveis contábeis?
Ninguém me convence de que um favelado tenha capacidade de montar um esquema de contratação de “soldados”, “vapor” comunicações e logística e contabilidade típicas de uma boca de fumo. Há alguém que orienta e financia, quem é então?
2- Para funcionar um esquema ilícito é necessário que se compre Delegados e Policiais e levando em conta que praticamente todos os bairros tem boca de fumo, fica praticamente obvio que todos os delegados de DPs no Rio de Janeiro sabem e deixam existir estas bocas.
É do meu conhecimento particular, que policiais arrecadam entre 3-5 mil reais por semana de uma boca de fumo. Grupos de policiais (em torno de 15-20 homens) tomam conta de 3-4 bocas e ali “enxertam” o orçamento familiar. Se eu, um pacto cidadão, tenho esse conhecimento todo, e há mais de 30 anos, como é que o MP permite o atual status quo?
3- Digamos que as autoridades tenham sucesso em pacificar as favelas maiores e mais problemáticas do Rio, para onde vão as bocas de fumo?
Sim, porque há uma demanda imensa e o dependente não quer saber. Tem proteção da sociedade e das ONGs.
4- Havendo sucesso na pacificação das favelas mais problemáticas e de maior movimento financeiro, aonde o PM e o Delegado vão tirar o “extra” mensal? O Estado do Rio dará aumento salarial “compensatório?
A PM, o BOPE e as Forças Armadas envolvidas na retomada das Favelas do Vila Cruzeiro e Complexo do Alemão tem hoje maciço apoio popular, mas a maioria são soldados que ganham até 1000 reais por mês. Claro que é a “banda” boa dessas forças que assistimos na TV, mas há uma corporação inteira com ganhos salariais ridículos e por necessidade, boa parte destes recorreram á corrupção para terem uma vida melhor.
5- Enquanto as Forças de ocupação retomam comunidades para o Estado, o que vão fazer com os viciados, o tal “dependente químico?”
6- O que será dos “peão” da firma? Os “soldados”, “vapor” e “mulas” vão fazer o quê? Engordar as filas dos desempregados? Vão estudar? Vão trabalhar por um salário mínimo? Ou vão se agrupar em outras atividades criminosas?
Como eu disse acima, o Rio tem mais de 1000 favelas, e expulsando os “peão” da Firma, dos seus esconderijos normais, estão migrando para o subúrbio. Há relatos de barbáries em comunidades distantes onde bandidos do Complexo do Alemão, Rocinha, Vila Cruzeiro, Maré, Nova Hollanda e outras menos conhecidas estão se enfrentando para fixar “point”.
Diversas favelas de Duque de Caxias, São João do Meriti, Belfort Roxo e Magé, já abrigam os ilustres concorrentes.
7- A policia irá atrás desses bandidos também, ou a “guerra” só é válida até onde alcançam o foco das lentes da Globo?
Outro texto de primeira. Parece coisa combinada.
ResponderEliminar10!
ResponderEliminarOu seja porque PM e PCivil acabariam com sua galinha dos ovos de ouro?
ResponderEliminarA legalização pode ser um ótima saída para esses chefões. Fabricariam e comercializariam tranquilamente, sem tantos custos de propinas.
O detalhe é que teríamos alguns zilhões a mais de viciados, mas e daí? Desde que os bacanas possam cheirar e fumar sem serem incomodados, danem-se.
Lunar, meu amigo: faltou falar do patrulhamento de fronteiras - para evitar a entrada das drogas e armas que sustentam a criminalidade.
ResponderEliminarTambém é bom lembrar que o tráfico de drogas não foi erradicado de qualquer grande cidade sobre a face da Terra.
Mas é possível intimidá-lo, fazê-lo recuar.
Me parece que é isso que tentam fazer, desde quinta-feira, no Rio de Janeiro.
Que esta ação é movida pelos interesses políticos, da Copa, da Olimpíada, não deve invalidar seu evidente sucesso em desarticular pontos importantes da marginália.
Que os chefões não foram presos, não deve invalidar que o crime organizado perdeu território.
Que Cabral e Dilma venham a lucrar com a coisa, não deve invalidar o fato de que o tráfico foi obrigado a recuar de áreas historicamente tomadas por ele.
Que em outras ocasiões ações semelhantes não foram seguidas de políticas que impedissem o retorno dos traficantes a estas áreas não deve invalidar o fato de que estamos diante de uma nova chance para fazer certo.
No momento, reconhecer a ação da polícia como inédita e importante é a única chance de garantir que a opinião pública tenha base para cobrar um desfecho diferente. Uma ação continua, em outros morros e comunidades inclusive, que possa culminar com a captura de muitos chefes.
Toda esta visibilidade desta ação, a badalação da mídia, colocando os polciais como heróis, pode fazer a diferença: sensibilizar a opinião pública, encurralar autoridades a darem um retorno concreto e mexer com os brios dos bons policiais - a maioria - para que eles possam prevalescer sobre os colegas corruptos.
Ajuricaba: Quem me dera que fosse combinado, a lucidêz do Bscopenhauer é insuperável.
ResponderEliminarAtakardiac:Concordo, apenas um adendo; com a chegada do Crack, o pobre se viciou tambem. Temos morros com 60% de viciados, afinal por R$ 1 a pedra, todos podem.
Nariz Gelado: amiga, concordo contigo pois a sua visão é de longo prazo e ai talvez difere o seu foco do meu.
No mundo civilizado tenho conhecimento de algumas cidades onde se praticamente erradicou o tráfego, mas são exceções.
Policiamento de fronteiras é assunto complementar as ações do Estado, obrigatórias, porenquanto fico ainda com a ação local.
Não há a menor condição de colocar a PM carioca como "herois" haja visto que mais de 80% do efetivo é corrupta ! Porem aplaudo a ida deles ao Complexo do Alemão e da Vila Cruzeiro. Acontece que conheço o "meu povo"; Espetáculo midiático e em 1 mes, volta tudo como era dántes. Isso é se a comunidade não colaborar em manter o trafego longe.
Lunarscape
Maravilhoso texto. Parabéns! Mostra o lado que a mídia não quer mostrar.
ResponderEliminarExcelente texto! Mas não se pode escrever essas verdades não. Afinal, quem quer a verdade, diante de "um momento mágico"?
ResponderEliminarConcordo demais, que o traficante não tem capacidade de ‘Organizar, Estruturar e Manter o Crime’, para mim ele sequer teve capacidade de desenvolver nesta vida, o ‘traficante’ só está traficando porque não teve Capacidade.
ResponderEliminarSe houve ou não falha do Estado, dá outro capítulo, mas certamente é um ciclo vicioso...
Sem paixões, a corrupção está entranhada na sociedade, prova disto, foram os resultados das ultimas eleições... Mas, de qlq forma, me arrisco a afirmar que tem corrupto em todas as áreas da nossa sociedade, e se formos buscar aprofundar no assunto, passaríamos pelo ‘Extinto de Sobrevivência Humana’(Eu como centro do mundo) e chegaríamos em Adão e Eva.
Acho que o rio tinha que começar é buscando uma ‘varredura’ nos quartéis, delegacias...
Mas é varredura mesmo, verificar a vida pessoal e pública de todos agentes policiais, funcionários públicos...
Verificar se eles foram mesmo ou não é APROVADOS nos concursos...
Certamente que o tráfico vai continuar, parece que foram 3 toneladas de drogas apreendidas no Cruzeiro e 4 toneladas no Complexo, ou seja, é gente demais que é usuário destas drogas e certamente também que as ONG’s estarão de plantão na defesa destas pessoas...
Sem falar nas pessoas que ‘trabalhavam’ nas refinarias, venda, estas pessoas vão fazer o quê da vida?
Bem, primeiro precisam aparecer né?
O tema é polêmico, e tem inúmeras correntes,
Espero apenas que o GOVERNO se posicione e solucione, uma vez que é guardião da Constituição, que por sua vez é guardiã dos direitos de TODOS NÓS...
justamente por todas as questões levantadas é que sabemos que houve uma batalha ganha, mas pra vencer esta guerra muitas ações têm que ser feitas e não só na área policial.
ResponderEliminare tem que se saber se haverá mesmo vontade política para tanto.
Noemia, o seu comentário é corretissimo.
ResponderEliminarUma coisa é certa, o Estado foi obrigado a tomar uma atitude e tomou. Quando tomou a atitude percebeu o clamor popular e apartir dali não teve como voltar, pelo menos agora não. Mas em se tratar de Cabral e Paes, volta sim.
Infelizmente.
Prender "peãozinho" e exibir os como se fossem trofeus de campanha, é demais para qualquer inteligência mediana. Mas é o que esta ocorrendo.
Chegam relatos de que pessoas de bem estão sendo furtados pela PM que vasculham as casas dos "inocentes", o que convenhamos, era esperado, em se tratar de uma PM que ostenta mais de 80% de corrupção.
Esta guerra contra o tráfico tem que ser em diversas frentes;
Estado sendo empurrados por nos, sociedade, PM com melhor treinamento e melhores salários, e claro limpeza interna.
Destino certo para usuário de drogas, com penas pesadas para estes. E finalmente a socialização das comunidades, intergrando as á vida comum da cidade.
Lunarscape